A revelação do biógrafo Jean-Luc Barre, que ajudou Jacques Chirac a escrever suas memórias, de que o ex-presidente de centro-direita pretende votar no candidato socialista François Hollande para a Presidência da França causou uma reviravolta na disputa eleitoral na França.
"Não é nenhum segredo de Estado", disse Barre. "Ele não apenas vem me dizendo isso. Ele diz isso realmente para todo mundo que ele vê."
Visto com simpatia pela maioria na França, Chirac, de 79 anos, enfureceu o presidente Nicolas Sarkozy, seu sucessor conservador na Presidência, quando sinalizou em junho que iria mudar de lado comentário que na época foi considerado malicioso.
As especulações sobre como ele irá votar se intensificaram à medida que se aproximam as eleições presidenciais, cujo primeiro turno será no próximo domingo e o segundo em 6 de maio.
Chirac governou a França por 12 anos, até 2007, e continua sendo altamente popular, ao contrário de Sarkozy, que segundo todas as pesquisas de opinião seria derrotado por Hollande no segundo turno da eleição.
Ao lhe perguntarem na rádio estatal, ontem, o que pensava a respeito da intenção de Chirac de votar em seu adversário, Sarkozy disse que as pessoas não deveriam tentar explorar a posição de um homem idoso cuja saúde mental é motivo de especulação.
"O melhor jeito de respeitar Jacques Chirac e as dificuldades que atravessa e não tentar fazê-lo falar, de modo que ele não seja explorado em uma direção ou outra por aqueles ao seu redor", disse Sarkozy à rádio France Inter.
A assessoria de Chirac não fez comentários de imediato sobre o assunto.
A mulher de Chirac, Bernadette, também uma política conservadora, diz que votará em Sarkozy e tem ido a seus comícios.
Não é segredo nenhum que Chirac e Sarkozy que foi ministro das Finanças e ministro do Interior em seu governo não mantêm boas relações. Em 1995, Sarkozy apoiou para presidente outro conservador, Edouard Balladur, rival de Chirac na disputa.
Em suas memórias, publicadas no ano passado, Chirac descreveu Sarkozy como imensamente talentoso, mas "nervoso"", "impetuoso" e demasiadamente seguro de si.
Vários aliados de Chirac declaram apoio a Hollande, entre eles o historiador Jean-Luc Barré, um grande amigo ex-presidente, e Corinne Lepage, que foi ministra do Meio Ambiente do governo Chirac.
Entrevista
Christophe Blot, o diretor-adjunto para pesquisa e previsão do Observatório Francês de Conjunturas Econômicas.
Novo presidente terá de decidir entre austeridade e crescimento
O diretor-adjunto para pesquisa e previsão do Observatório Francês de Conjunturas Econômicas, Christophe Blot, não tem dúvida: a França, apesar de ter evitado a recessão até agora, não está a salvo da crise europeia. Tudo, afirma nesta entrevista à Agência O Globo, dependerá do contexto europeu e do futuro presidente, que terá de decidir pela orientação europeia da austeridade ou por privilegiar o crescimento. Para Blot, a austeridade seria o caminho errado.
Hollande e Sarkozy mentem ao prometerem um período pós-eleitoral economicamente menos difícil?
Esperamos que não, mas não dá para saber. Tudo depende das ações do período pós-eleitoral. Qual será a política orçamentária? Vamos continuar a nos fechar numa política de restrição dos gastos ou abrir espaço para a economia respirar e obter uma recuperação mais rápida e até redução do desemprego?
Em que estado está a França hoje?
Está ainda numa situação de crise. A crise financeira de 2008 provocou um choque grande, e ainda não recuperamos o nível de atividade econômica . O desemprego e o déficit orçamentário cresceram.
Dizem que a França vai melhor do que outros. A situação francesa se aproxima da espanhola?
A França não está necessariamente melhor que todos os outros. Mas não está na situação da Espanha, que teve um choque imobiliário muito grande, com o afundamento da construção e consequências para os bancos. Não foi o caso da França.
A França não corre risco?
O problema é que a França não está sozinha . Evoluímos. num ambiente de muita instabilidade. Sem estratégia de crescimento e uma melhor coordenação das políticas econômicas, o crescimento na Europa vai decepcionar . E com isso a capacidade dos países europeus de reduzir seu déficit orçamentário será menor. Num contexto de crise da zona do euro, de movimentos especulativos e dúvida no mercado, a França não está a salvo.
Há um processo de desindustrialização da França?
Não é uma exceção francesa. A questão é: está havendo perda de competitividade da indústria francesa? É possível. Mas será que isso é um elemento determinante para o crescimento? Isso é discutível. O crescimento não é só garantido pela indústria, mas pelo setor de serviços. A questão essencial não é a desindustrialização, mas sim o crescimento.
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