Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Protestos

Revolta na Bolívia ameaça eleições para o Judiciário

Marcha em defesa de indígenas da Amazônia boliviana ganhou apoio de trabalhadores, estudantes e professores, em La Paz | Aizar Raldes/AFP
Marcha em defesa de indígenas da Amazônia boliviana ganhou apoio de trabalhadores, estudantes e professores, em La Paz (Foto: Aizar Raldes/AFP)

A Bolívia viveu ontem mais um dia de protestos pró-indígenas amazônicos e contra o governo Evo Morales, numa crise que pode se converter em revés na inédita e controversa eleição para o Judi­­ciário, prevista para o dia 16.

Em La Paz, uma marcha convocada pela Central Operária Bo­­liviana (COB), a maior central sindical do país, reuniu também professores, médicos, grupos ecologistas, indígenas e estudantes. Em outras grandes cidades também houve mobilizações.

Foi um indício de que a repressão do governo, domingo passado, aos indígenas que se opõem a uma estrada financiada pelo Brasil acabou unindo vários grupos descontentes com Morales, a maioria de sua base política.

A COB cobra cumprimento de acordos salariais do semestre passado, e médicos e professores pedem aumento.

Suspensão

O governo tentou estancar a crise anunciando a suspensão da construção da estrada, a cargo da brasileira OAS e com financiamento do BNDES.

Até agora, porém, a paralisação tem efeito nulo, já que a empresa não recebeu notificação para interromper os trabalhos nos trechos 1 e 3 da estrada. O trecho 2, foco da polêmica, porque cortará uma reserva ecológica, não começou a ser feito nem tem ainda licença ambiental.

O temor dos governistas é que a crise contamine as eleições do dia 16, quando os bolivianos escolherão pela primeira vez os magistrados dos altos tribunais do país. Os candidatos foram pré-selecionados pelo Congresso, controlado pelo governo.

A oposição a Morales pede voto nulo. "Se os manifestantes alcançarem uma votação nula expressiva, a estratégia pode funcionar como questionamento da eleição", diz Gonzalo Chávez, da Uni­­versidade Católica da Bolívia.

A avaliação dos especialistas em política boliviana é que os protestos enfraquecem Evo, mas que o governo não deverá cair, uma vez que a oposição boliviana está muito dividida. "Evo foi um símbolo muito forte para vários bolivianos. Ele encarnava princípios da justiça e dos direitos humanos. Mas agora essas pessoas estão desencantadas", afirma Jim Schultz, do think tank The Democracy Center, dos EUA, que acompanha a política boliviana.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros