Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Religião

Revolta tem dia mais violento com 19 mortes

Ary Graça vai comandar a Federação Internacional de Vôlei | FIVB
Ary Graça vai comandar a Federação Internacional de Vôlei (Foto: FIVB)

A morte de 19 pessoas no Paquistão fez do dia de ontem o mais sangrento desde o início de protestos no mundo muçulmano contra um vídeo contrário ao Islã.

A sexta-feira, dia de rezas para os islâmicos, costuma concentrar manifestações políticas. Desde a semana passada, o alvo é o filme "Inocência dos Muçulmanos", que satiriza o profeta Maomé.

No Paquistão, o governo declarou ontem como feriado para "o amor pelo profeta", para encorajar atos pacíficos. Além das mortes, o país teve 160 feridos. Em Peshawar, a polícia atirou contra a multidão que tentava incendiar um cinema.

Manifestantes munidos de pedras também entraram em conflito com autoridades nas cidades de Lahore, Karachi, a maior do país, e na capital, Islamabad.

As autoridades bloquearam serviços de celular em 15 grandes centros urbanos, para evitar o acionamento remoto de bombas.

Mundo

Cerca de 10 mil muçulmanos também se reuniram em Dacca, na capital de Bangladesh, após as orações. Eles queimaram bandeiras dos EUA e da França – esta última, pela publicação de charges de Maomé no semanário humorístico parisiense Charlie Hebdo.

A tensão na França aumentou após um pedido da­­ líder de extrema-direita Ma­­rine Le Pen para proibir o véu muçulmano e a quipá judaica em todos os espaços públicos do país.

A embaixada francesa ainda foi alvo de um protesto pacífico em Teerã, com cem pessoas, aproximadamente, e que durou duas horas.

Seguidores de grupos xiitas ainda tomaram as ruas de Basra, no Iraque, carregando bandeiras do país e pôsteres do supremo líder iraniano, o aiatolá Khamenei. Os atos foram contra os EUA, França e Israel.

No Egito, as autoridades religiosas clamaram por demonstrações não violentas. O governo tunisiano, islâmico, seguindo o exemplo da França, decidiu proibir qualquer tipo de manifestação.

Nigéria, Uganda e a região indiana da Cachemira também foram palco de atos.

Brasil

A Embaixada do Brasil no Paquistão não abriu suas portas hoje. A mesma decisão foi tomada por outros países, como a França e os Estados Unidos, que temiam que suas representações diplomáticas sofressem ataques devido aos protestos, que já duram dez dias, contra um filme anti-islã produzido nos EUA e divulgado pela internet.

O Itamaraty afirma que o posto brasileiro volta a funcionar normalmente na próxima semana. De acordo com relatório da pasta de abril deste ano, a embaixada conta com dois diplomatas e cinco servidores.

OpiniãoOs desafios para o Islã do século 21

Roger Cohen, colunista do jornal The New York Times

O mundo muçulmano não pode ficar em cima do muro. Ele não pode pôr o Islã no centro de sua vida política – e, em casos extremos, de violência política – e, ao mesmo tempo, declarar que a religião está fora dos limites da contestação e ridicularização.

O Islã é uma das três grandes religiões monoteístas. Das três, é a mais jovem por vários séculos e, talvez por isso, é a mais fervorosa e turbulenta. E é também, em diversas formas, um movimento, uma referência e uma inspiração política.

A política é como um jogo de luta corporal. Se os partidos emergentes das nações em transição – como a Irmandade Muçulmana no Egito e o Ennahda na Tunísia – quiserem honrar os termos do governo democrático, terão de conceder que não têm monopólio sobre a verdade, que as prescrições do Islã são maleáveis e discutíveis, e que correntes significativas em suas sociedades têm convicções, e até mesmo fé, muito diferentes.

As últimas semanas têm sido desanimadoras. Ninguém espera que essas sociedades adotem – ou até mesmo compreendam plenamente – um padrão de liberdade de expressão ao estilo norte-americano; elas terão que deitar suas bases políticas e culturais inspiradas pelo desejo ainda fervente de escapar do despotismo, seja secular ou teocrático, e pela posição central da fé.

Mas os fracassos na Tunísia, na Líbia e no Egito em controlar as multidões violentas de salafistas enfurecidos com a ridicularização do Islã e do profeta Maomé pela América e Europa sugerem uma ambivalência inaceitável: o governo da lei terrena deverá prevalecer sobre a indignação divina.

O mundo já tentou ter repúblicas muçulmanas e descobriu que elas são contraditórias. Como ilustra o Irã, elas não funcionam: instituições republicanas, moldadas pelos desejos de homens e mulheres, caem vitimizadas pela superestrutura muçulmana.

O grande desafio da Primavera Árabe é provar que, como na Turquia, partidos de inspiração muçulmana são capazes de adotar um pluralismo moderno e, assim, tirar suas sociedades de uma cultura de sofrimento e vitimização, rumo a uma cultura de criatividade e agentividade.

Tradução: Adriano Scandolara.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.