A Revolução Mexicana foi o primeiro grande levante social ocorrido no século 20 e, como tal, influenciou outros movimentos populares ao redor do mundo, como as revoluções Cubana e Sandinista (na Nicarágua). Iniciada em 20 de novembro de 1910, a Revolução completará este ano o primeiro centenário e a despeito do tempo se mantém viva tanto na memória quanto no ideário do povo mexicano.
Porfirio Díaz (1830-1915), um mestiço de Oaxaca que havia se destacado nos exércitos liberais que lutaram contra grupos conservadores durante a intervenção francesa no México, assumiu a Presidência em 1876 e permaneceu por 35 anos no poder período que os historiadores costumam chamar de Porfiriato. Durante o tempo que governou o país, Porfirio incentivou o avanço do capitalismo no México, graças principalmente a recursos norte-americanos.
"Além do fato relacionado à capitalização do Estado, outras questões motivaram a revolução. Os operários tinham uma carga de trabalho enorme e chegavam a trabalhar sem folgas, até mesmo aos domingos", afirma Viviane Maria Zeni, professora do curso de História da Universidade Tuiuti do Paraná UTP).
No que diz respeito ao modo de governo, o ditador Porfirio Díaz realizou a centralização política e passou a eliminar líderes locais que dominavam regiões ou estados no interior do país. Em resposta à tática centralizadora do general, vários inimigos se revoltaram. Entre eles estava Francisco Indalecio Madero (1873-1913), um rico fazendeiro e detentor de grande poder local. Ele era membro do clã que praticamente monopolizava a produção de carvão no país àquela época. A relação entre a família Madero e Porfirio que já vinha sendo prejudicada pelas atitudes centralizadoras do governante se agravou ainda mais quando o ditador decidiu abrir o mercado carvoeiro para o capital americano.
Os indígenas que possuíam grandes extensões de terras e reservas naturais em todo o país vinham sendo pressionados a vender seus puedos (terras indígenas) a grandes fazendeiros americanos que tinham interesse na exploração econômica do solo, sobretudo no que diz respeito à agricultura. "Essa entrada de capital externo e a ameaça à soberania trouxeram uma consciência nacionalista ao povo, aos trabalhadores mexicanos. E foram essas condições que propiciaram a revolta", explica Carlos Alberto Sampaio Barbosa, professor de História da América na Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Em 1911, desgastado pela Revolta, Porfirio Díaz não teve outra saída senão renunciar.
Sem o apoio das classes oligárquicas ou mesmo da população, ele se exilou em Paris. Em seu lugar, entrou Francisco Madero, um dos principais nomes do levante mexicano ao lado do célebre general Pancho Villa, que também era contra Porfirio. "Mas os camponeses não tiveram muito lugar na gestão de Madero", afirma Edméia Ribeiro, professora de História da América na Universidade Estadual de Londrina (UEL). Por causa disso, Emiliano Zapata (1879-1919) representante da parcela camponesa participante da revolta e também uma das figuras mais celebradas da Revolução continuou armado, com seu grupo, no sul do país.
Mesmo com a participação de camponeses, indígenas e de diversos setores da população na Revolução Mexicana, não se pode caracterizar o movimento como um levante eminentemente popular. "Trata-se de uma revolução burguesa e, como tal, apresentou elementos progressistas e elementos conservadores. Os avanços se deram em termos jurídicos e institucionais, mas por trás desse verniz liberal havia uma estrutura oligárquica de poder", analisa Carlos Eduardo Vidigal, doutor em Relações Internacionais e professor de História da América na Universidade de Brasília (UnB).