Fundador do Duty Free Shoppers Group, das lojas nos aeroportos, Chuck Feeney foi um dos maiores bilionários do planeta nos anos 1980. Mesmo assim, obrigou os filhos a economizarem mesada, arranjarem atividade remunerada nas férias e trabalharem para ajudar a pagar a faculdade. No fim daquela década, Feeney, hoje com 83 anos, doou 99% de sua fortuna ? US$ 7,5 bilhões ? à instituição filantrópica Atlantic, que criou. Hoje, ele dispõe de US$ 2 milhões no banco, não tem casa nem carro próprios e usa um relógio Casio de US$ 15. Trinta anos atrás, Feeney era um excêntrico. Em 2014, é um pioneiro. Como ele, uma lista crescente de ricaços norte-americanos tomou a decisão de doar parte ou toda sua fortuna a projetos de caridade e fundações sociais, de pesquisa e de educação, nos EUA e no exterior, rompendo com a tradição que gerou famílias ícones, como os Vanderbilt e os Rockfeller, e avisando aos filhos para investirem numa profissão que não seja a de herdeiro.
"Simplesmente me pareceu lógico dar um bom destino ao meu dinheiro em vez de colocá-lo numa conta bancária e deixá-lo acumular e acumular", disse Feeney há alguns anos. "Quero que meu último cheque seja recusado por falta de fundos."
Bill Gates, fundador da gigante Microsoft, e a mulher, Melinda, seguem os passos de Feeney. Dedicados à filantropia, com patrimônio superior a US$ 80 bilhões, criaram uma fundação que leva o nome do casal e à qual já transferiram US$ 37 bilhões. Os Gates se consideram "abençoados com uma boa sorte muito acima de suas expectativas" e sentem "grande responsabilidade" no uso do que acumularam. Por isso, seus três filhos, além do acesso à educação de qualidade e às oportunidades únicas de quem nasceu em berço de ouro, têm garantidos apenas fundos de US$ 10 milhões para uso próprio.
Bill e Melinda são criadores ao lado do papa dos mercados financeiros Warren Buffett (que tem mais de US$ 60 bilhões no cofre) da campanha Giving Pledge, de 2010. É um compromisso público dos bilionários com a doação de ao menos metade de suas fortunas à caridade, em vida ou após a morte. Buffett, que completa 84 anos no fim do mês, já começou a transferir 99% do seu patrimônio.
Percalços marcaram os Vanderbilt
A dilapidação do patrimônio por filhos mimados, destruindo seu legado, é uma preocupação velada dos ricaços.
A fortuna acumulada pelos Vanderbilt com ferrovias e companhias de navegação, por exemplo, foi arrasada na terceira geração, sobrando às duas bisnetas fundos de US$ 5 milhões.
Uma delas, Gloria Vander-bilt, deixou claro ao filho, o jornalista Anderson Cooper, que ele não receberá herança nenhuma.
Cooper é hoje âncora do horário nobre da CNN, ganhando US$ 11 milhões por ano. "Se eu tivesse sentido que havia um ponte de ouro me esperando, não sei se teria sido uma pessoa tão motivada", diz Cooper.