A secretária americana de Estado, Condoleezza Rice, disse nesta segunda-feira que a Rússia está jogando um "jogo muito perigoso" com os Estados Unidos e seus aliados e alertou que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) não permitirá que Moscou vença na Geórgia, desestabilize a Europa ou puxe uma nova Cortina de Ferro.
No caminho para o encontro de emergência dos chanceleres de países da Otan sobre a crise entre a Rússia e a Geórgia, Rice disse que a aliança poderá punir a Rússia pela invasão do país do Cáucaso e manifestou apoio total à Geórgia e a outras democracias do Leste Europeu.
"Nós temos que rejeitar os objetivos estratégicos da Rússia, que claramente tentam minar a democracia na Geórgia, usar sua capacidade militar para danificar e em alguns casos destruir a infra-estrutura georgiana e tentar enfraquecer o governo de Tbilisi," ela disse.
"Nós estamos determinados a rejeitar o objetivo estratégico deles," Rice disse aos repórteres no avião a caminho de Bruxelas, acrescentando que qualquer tentativa russa de intimidar ex-repúblicas soviéticas e ex-Estados satélites de Moscou fracassará.
"Nós não permitiremos que a Rússia trace uma linha a esses países que ainda não estão integrados nas estruturas transatlânticas," ela disse, ao se referir à Geórgia e à Ucrânia, que ainda não aderiram à Otan e à União Européia, mas desejam fazê-lo.
Rice não disse o que a Otan fará para deixar clara sua posição, mas afirmou que a organização falará com apenas uma voz para "indicar com clareza que nós não aceitamos uma nova linha divisória."
Ao mesmo tempo, ela disse que ao mostrar seus músculos militares na Geórgia e com outros gestos, como com a retomada dos vôos dos bombardeiros estratégicos, ao largo da costa do Alasca, a Rússia embarcou em um política perigosa e o tiro poderá sair pela culatra.
Esse "é um jogo muito perigoso e talvez um que a Rússia queira reconsiderar," disse Rice sobre os vôos dos bombardeiros estratégicos, que existiam até a desintegração da União Soviética (1991), foram interrompidos por vários anos e retomados pelos russos há seis meses.
"Ninguém precisa da aviação estratégica russa ao largo da costa americana," disse.
Em meio a uma deterioração das relações com Moscou, os chanceleres da Otan deverão revisar uma série de atividades militares e ministeriais conjuntas que haviam planejado com a Rússia - e decidir, caso a caso, quais serão canceladas.
Eles também discutirão o apoio a uma missão internacional de monitoramento para o Cáucaso e um pacote de apoio para ajudar a Geórgia a reconstruir a sua infra-estrutura, após a devastadora derrota que o país sofreu nas mãos das forças armadas da Rússia.
Rice também sugeriu que o presidente russo Dimitri Medvedev, que assinou um acordo de cessar-fogo com a Geórgia incentivado pela França, pode ser inábil em exercer seu poder sobre seu poderoso predecessor, o atual premiê Vladimir Putin, ou sobre os militares russos.
Dois oficiais graduados americanos disseram hoje, sob anonimato, que relatórios da inteligência indicam que os russos moveram para a Ossétia do Sul vários lançadores de mísseis SS-21, que foram apontados para Tbilisi.
A assinatura de Medvedev do cessar-fogo determina a retirada das tropas russas da Geórgia, mas com os mísseis na Ossétia do Sul a capital da Geórgia, Tbilisi, poderia ser punida apenas com o aperto de um botão. Especialistas dizem que o sistema SS-21 é o mesmo que os russos dispararam em outubro de 1999 contra a capital da Chechênia, Grozny, quando o bombardeio matou pelo menos 140 pessoas.
Enquanto isso, Dimitri Rogozin, embaixador russo na Otan, alertou que a campanha de propaganda contra a Rússia poderá colocar em risco a atual cooperação na segurança. "Nós esperamos que amanhã (terça-feira) as decisões da Otan sejam harmônicas e que as forças responsáveis no Ocidente desistam do total cinismo que tem sido tão evidente em nos levar de volta à era da Guerra Fria," disse hoje o embaixador russo.
O chanceler da França, Bernard Kouchner, disse hoje que espera que as tropas russas se retirem da Geórgia, como foi acertado no cessar-fogo. Segundo ele, aparentemente "nós testemunhamos o começo da retirada das tropas nesta segunda-feira."
Segundo ele, se isto não ocorrer, o presidente francês Nicolas Sarkozy será forçado a convocar uma reunião de emergência do Conselho Europeu para discutir quais serão as conseqüências para a Rússia.
Mais cedo nesta segunda-feira, o Estado-Maior das forças Armadas da Rússia declarou que a retirada havia começado.
"Hoje, em linha com o plano, a retirada das forças de paz russas começou", declarou em Moscou o general Anatoly Nogovitsyn, subcomandante do Estado-Maior da Rússia, à televisão estatal.
O anúncio veio à tona em meio a manifestações públicas de
dúvidas por parte de líderes ocidentais quanto ao cumprimento da
promessa feita no domingo pelo presidente da Rússia, Dmitry
Medvedev, de começar a retirar as tropas nesta segunda-feira.
Nogovitsyn informou que as forças russas estão saindo de Gori, uma cidade estratégica da Geórgia. Gori situa-se a apenas 90 quilômetros de Tbilisi e é ponto de passagem da única importante rodovia do país a ligar o leste ao litoral do Mar Negro.
O governo dos Estados Unidos, no entanto, disse hoje que não vê uma retirada "significativa" das forças russas, disse um oficial americano. "Estamos monitorando a situação, parece que o movimento (de retirada) está bem no começo, mas não observamos hoje nenhum deslocamento significativo de tropas russas para fora da Geórgia," disse o oficial sob anonimato.
As informações são da Associated Press e da Dow Jones.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink