O músico Roger Waters, um dos criadores da banda de rock progressivo Pink Floyd, pode ter ultrapassado os limites das leis alemãs que criminalizam "incitação ao ódio" ao fazer um show em Berlim, diz a polícia local.
Na apresentação da noite de quarta para quinta da semana passada (17 e 18), Waters, que está a quatro meses de fazer 80 anos, vestiu um uniforme parecido com os usados pela SS, força paramilitar do regime de Adolf Hitler. Em sua braçadeira, contudo, não havia uma suástica, mas o símbolo com dois martelos cruzados utilizado na alegoria do nazismo no filme "The Wall" (1982), com disco homônimo.
O inspetor chefe de polícia berlinense, Martin Haweg, disse ao jornal Jewish News que sua instituição "iniciou uma investigação criminal a respeito da suspeita de incitação" contra o músico britânico porque "o contexto da indumentária usada é considerado capaz de aprovar, glorificar ou justificar o jugo violento e arbitrário do regime nazista de uma maneira que viola a dignidade das vítimas e assim perturba a paz pública".
O Ministério das Relações Exteriores de Israel reagiu a imagens do show no Twitter acusando Waters de "profamar a memória de Anne Frank e dos seis milhões de judeus assassinados no Holocausto". O nome da adolescente holandesa, autora de um famoso diário, foi posto junto a outros nomes que o músico considera vítimas do Estado de Israel.
É comum nos shows de Waters a presença de um grande porco inflável pintado com símbolos que incluem os martelos cruzados, logos de petrolíferas e uma estrela de Davi, símbolo dos judeus. Por isso, além das críticas a Israel, alguns acusam o artista de antissemitismo. Nas letras do álbum "The Wall", contudo, Waters critica pela paródia o antissemitismo, o racismo e a homofobia, misturando traumas autobiográficos com representações negativas das autoridades e do autoritarismo.
Mais um show na cidade alemã de Frankfurt está marcado para o próximo fim de semana. Parte da comunidade judaica local promete recebê-lo com um protesto. A turnê de despedida de Roger Waters, de título "This is Not a Drill" ("Isso não é um teste", em tradução livre), virá para o Brasil em outubro e passará por Brasília, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte e São Paulo.
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