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Na noite do último sábado (15), dezenas de jovens saíram às ruas no centro histórico e financeiro de Chicago, conhecido como Loop, e causaram diversos danos a carros, prédios e outras infraestruturas públicas.
Durante o tumulto, dois adolescentes foram baleados perto do Millennium Park, um dos locais turísticos mais famosos da cidade. Um jovem de 16 anos foi atingido no braço direito, enquanto o outro, de 17 anos, foi baleado na perna. Ambos foram levados para um hospital próximo e estão em condições estáveis.
Por meio de nota, o Departamento de Polícia de Chicago (CPD, na sigla em inglês) informou que 15 pessoas foram detidas, nove adultos e seis menores de idade. A maioria das prisões foi por acusações de conduta imprudente. No entanto, entre os detidos também estavam um homem e um adolescente que estavam dirigindo um carro roubado, e um jovem de 16 anos que foi apreendido por portar ilegalmente uma arma.
O grande grupo de jovens percorreu as principais ruas da região, como a Avenida Michigan, subindo em veículos, quebrando para-brisas e vitrines de lojas. Além disso, eles perseguiram e empurraram pessoas que passavam pelo local. Esse comportamento foi classificado pelo CPD como “perturbador” e um risco para turistas, moradores e para os próprios jovens envolvidos.
A concentração foi convocada por meio de redes sociais, mas ainda não está claro para a polícia o que motivou os atos de vandalismo. “Todos são bem-vindos e incentivados a aproveitar tudo o que Chicago tem a oferecer, incluindo o popular centro da cidade, mas atividades criminosas nunca serão toleradas. Os envolvidos em atividades criminosas serão presos e responsabilizados”, garantiu o CPD.
No entanto, esta não é a primeira vez que jovens causam confusão nesta área. Em 2020 e em 2021, houve cenas semelhantes, embora em menor escala, que levaram à proibição de adolescentes desacompanhados de responsáveis permanecerem no Millenium Park à noite.
Essas ações foram chamadas pela imprensa americana de “teen takeover”, expressão em inglês utilizada para sinalizar uma rebelião adolescente e similar ao “rolezinho” em português– prática popularizada no início dos anos 2010, quando milhares de adolescentes invadiam, todos ao mesmo tempo, shoppings centers em grandes capitais brasileiras.
O episódio em Chicago ocorre em meio a um aumento geral no número de crimes registrados na terceira maior cidade dos Estados Unidos. De 2021 para 2022, houve um aumento de 41% no número de ocorrências. O número de furtos de veículos mais do que dobrou neste mesmo período (102%) e os furtos gerais aumentaram em 56%.
Esses dados colocaram a segurança pública como tema central das eleições municipais concluídas este mês. Para se ter uma ideia, em Houston, cidade com quase o mesmo número de habitantes de Chicago, houve uma queda geral no número de registros de ocorrências, e os furtos de veículos cresceram apenas 11% de um ano para o outro.
O número de homicídios também chama atenção: desde o começo deste ano, 152 pessoas já foram assassinadas na cidade, segundo dados compilados pelo Chicago Sun-Times. No ano passado, das cinco maiores cidades do país, Chicago foi a que registrou o maior índice de homicídios per capita, uma concentração cinco vezes maior do que Nova York, por exemplo.
“Desfinanciamento” da polícia
A invasão do grupo gerou medo e também uma série de críticas em relação à forma como os prefeitos americanos estão lidando com o problema, especialmente a defesa da redução de investimentos nas polícias em resposta aos protestos pelo assassinato de George Floyd, morto em Minneapolis em 2020. Essa é uma bandeira de campanha que democratas têm sustentado em várias regiões do país.
Partidário dessa ideia, o prefeito recém-eleito de Chicago, o ex-professor sindicalista Brandon Johnson, foi ao Twitter comentar os atos de vandalismo do último sábado. Ele disse que não há lugar na cidade para crimes inaceitáveis, mas acrescentou que “não é construtivo demonizar a juventude privada de oportunidades em suas próprias comunidades”.
Segundo reportou a National Review, a prefeita em exercício, Lori Lightfoot, também condenou o comportamento imprudente e ilegal do grupo, acrescentando que não permitirá que espaços públicos se tornem palco para ações criminosas. Além disso, a prefeita pediu para que pais e responsáveis fiquem atentos aos seus filhos e se responsabilizem por suas ações. “Incutir valores importantes como o respeito pelas pessoas e pela propriedade deve começar em casa”, afirmou.
A prefeita democrata Lightfoot apoiou a redução do financiamento dos departamentos de polícia em 2020, mas um ano depois mudou de posição e precisou ir a público pedir ajuda de agentes federais para combater o tráfico de armas e outros crimes em Chicago.
A resposta das duas principais autoridades da cidade levou a apresentadora do canal Fox News, Kayleigh McEnany, a apelar para que os líderes condenassem o vandalismo sem fazerem maiores ressalvas. “As palavras dos funcionários eleitos são importantes e devem ser uma declaração firme, mostrando que haverá consequências se esse comportamento persistir. Ponto final”, destacou.
Em entrevista à CBS Chicago, o ex-vice-superintendente da polícia de Chicago, Antonio Riccio, também criticou a falta de um plano consistente para evitar que os jovens voltem às ruas nos próximos fins de semana e disse que a situação está saindo do controle.
“Estamos começando a ver algumas das implicações econômicas disso, alguns dos efeitos. As pessoas não estão mais frequentando o centro para apoiar os negócios locais, restaurantes ou aproveitar o Millenium Park”, disse ele.
“Talvez o departamento de polícia precise reunir algumas pessoas experientes em uma sala e criar uma estratégia eficaz. Não é a última vez que isso acontecerá”, destacou Riccio.