Manifestantes incendiaram veículos, enfrentaram as tropas de choque e atiraram tinta e bombas de fumaça contra o Parlamento italiano na terça-feira, nos mais graves incidentes em Roma nos últimos anos, após a vitória do primeiro-ministro Silvio Berlusconi num voto de confiança na Câmara dos Deputados.
A Via del Corso, principal rua do centro histórico, repleta de lojas elegantes e perto do gabinete de Berlusconi, foi cenário de uma batalha com muita fumaça, gás lacrimogêneo e rostos ensanguentados.
No monte Pincio, acima da famosa Piazza di Spagna, os manifestantes queimaram carros particulares, viraram latões de lixo e impediram os bombeiros de debelarem as chamas.
Ao menos 50 pessoas ficaram feridas, inclusive vários policiais, e mais de 40 manifestantes foram detidos, informou a polícia. Os manifestantes eram principalmente estudantes, mas também havia trabalhadores e imigrantes.
As TVs mostraram dezenas de pessoas apedrejando policiais, e agentes da tropa de choque batendo nos manifestantes e perseguindo-os pelas estreitas ruas com calçamento de pedra.
"Enquanto estão fazendo seu joguinho no Parlamento, estamos nos dirigindo para a catástrofe. Cadê o meu futuro? Não me sinto representado por este governo. Não me sinto representado no meu próprio país," disse o universitário Marco, 19 anos.
A manifestação havia sido organizada como festa, na expectativa de que Berlusconi seria derrubado pelo Parlamento. Mas ele sobreviveu ao voto de desconfiança na Câmara dos Deputados, por uma margem de apenas três votos.
As lojas foram forçadas a fechar enquanto os manifestantes, muitos deles com máscara de esquiador, passavam pelas calçadas virando mesas de bares, floreiras e motos estacionadas. Eles destruíram vidraças de bancos e vários caixas eletrônicos, e lançaram mesas e cadeiras contra carros da polícia.
Nas últimas semanas, estudantes têm protestado em toda a Itália contra as medidas de austeridade e as reformas universitárias planejadas pelo governo de centro-direita, a exemplo do que acontece em outros países europeus, como a Grã-Bretanha.
Os estudantes também bloquearam o aeroporto de Palermo, na Sicilia, e chegaram a ocupar o prédio da Bolsa de Milão.
Para muitos italianos, a atual crise política se soma ao clima geral de desânimo no país. Mas houve quem ficasse satisfeito com o resultado da votação. "Acho melhor assim, porque do contrário não teria funcionado. A esta altura, precisamos de um governo que consiga manter nossa cabeça para fora da água," disse o morador romano Giuliano Marroti.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura