Ruanda lembra hoje os 20 anos do genocídio que matou 800 mil pessoas em cem dias entre 20% e 40% de sua população , tragédia que será recordada em todo o país com vários eventos em honra às vítimas.
Os atos mais solenes acontecerão na capital, Kigali, onde será acesa uma Chama do Luto Nacional, que queimará durante cem dias. No começo da manhã, o presidente de Ruanda, Paul Kagame, receberá a denominada "tocha da lembrança", que em 7 de janeiro iniciou um percurso por cerca de 30 localidades nas quais houve oficinas de educação pela paz.
Essa tocha será usada para deixar a Chama do Luto Nacional no Centro Comemorativo de Kigali, onde permanecerá acesa durante o mesmo período que durou o massacre tutsis efetuado por hutus extremistas entre abril e junho de 1994.
Posteriormente, será realizado um ato oficial no estádio Amahoro, com presença de familiares das vítimas procedentes de todo o país e representantes governamentais de várias nações.
Entre os enviados internacionais, não haverá um representante da França, que no sábado cancelou a presença em todos os eventos oficiais depois que Kagame acusou militares franceses de terem tido envolvimento na preparação e na execução do massacre.
À tarde, haverá uma marcha passeata que partirá da sede do parlamento até o estádio, onde haverá uma vigília com canções e projeções sobre um dos episódios mais assustadores da História.
Falha irreparável
Está prevista a participação do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon nos atos oficiais de lembrança do genocídio, tragédia à qual a comunidade internacional não soube reagir, como admitiu no sábado o próprio sul-coreano em uma visita a Bangui.
"A comunidade internacional falhou com a população de Ruanda há vinte anos. Foi um erro que não deve ser repetido", reconheceu Ban.
Embora existam indícios claros da situação que era preparada meses antes, o conflito explodiu em 6 de abril de 1994 com o assassinato do presidente ruandês Juvenal Habyarimana, quando o avião no qual viajava foi derrubado pouco antes de aterrissar no aeroporto de Kigali.
O assassinato de Habyarimana (da etnia hutu), que morreu junto ao presidente do Burundi, Cyprien Ntaryamira, que o acompanhava, foi o detonador do massacre coletivo iniciado por hutus radicais no qual 70% das vítimas foram tutsis.
No dia seguinte, dez boinas azuis belgas que protegiam a primeira-ministra ruandesa, Agathe Uwilingiyimana, foram assassinados junto com ela, o que levou Bruxelas a ordenar a retirada de seu contingente.