Não é nenhum choque dizer que não conseguimos saber o que sente uma pessoa com Botox. Mas parece que as pessoas com os rostos paralisados têm também pouca noção daquilo que nós sentimos.
Não, injeções de Botox não matam neurônios. (Pelo menos não até onde sabemos). De acordo com um novo estudo por David T. Neal, um professor assistente de psicologia na University of Southern California, e Tania L. Chartrand, uma professora de marketing e psicologia da Duke University Fuqua School of Bu- siness, pessoas que passaram por injeções de Botox têm uma incapacidade física de imitar emoções alheias. Esse insucesso em espelhar os rostos daqueles que eles observam e com quem conversam lhes priva da habilidade de compreender o que as pessoas estão sentido, diz o estudo.
A ideia para o artigo surgiu de um estudo conduzido nos anos 1980, segundo o qual homens e mulheres casados há muitos anos começavam a se parecer um com o outro, com o tempo, especialmente se tiverem um casamento feliz. "Então, pensamos, o que vai acontecer agora que existe o Botox?", disse Neal.
A toxina botulínica pode interferir com a "cognição corporificada", o modo com o qual as respostas faciais auxiliam as pessoas a perceberem emoções. De acordo com a teoria no estudo, um ouvinte imita, inconscientemente, as expressões do outro. Essa imitação, então, gera um sinal do rosto da pessoa para o seu cérebro. Por fim, o sinal permite ao falante compreender o significado e as intenções da outra pessoa.
Enquanto os primeiros dois passos desse processo já estavam bem estabelecidos por pesquisa, não estava claro se as respostas faciais auxiliavam ou não as pessoas a fazerem melhores julgamentos sobre as emoções alheias.
E eis que surge a pessoa com Botox, um novo e útil espécime de laboratório. E, como controle, o usuário de Restylane (ácido hialurônico), um preenchimento de pele que não altera as funções musculares.
Em um experimento, foi oferecido o valor de US$ 200 a mulheres que haviam passado por injeções de Botox durante as duas semanas anteriores para que olhassem um conjunto de fotografias e as relacionassem a emoções humanas. Usuários de Restylane realizaram as mesmas tarefas, que, em ambos os casos, foram conduzidas via computador.
Mulheres com Botox foram significativamente menos precisas em decodificar tanto expressões faciais positivas e negativas do que aquelas que haviam usado Restylane, cujas habilidades estavam bastante próximas das de adultos comuns e enrugados. Em média, o grupo do Botox errou duas ou mais das 36 expressões faciais.
Um segundo experimento descobriu que pessoas com expressões amplificadas faziam um serviço melhor em decifrar emoções. Participantes que aplicaram um gel em seus rostos que fazia seus músculos efetivamente trabalharem mais para expressarem emoções foram capazes de identificar emoções alheias mais precisamente. O gel era semelhante a uma máscara facial de farmácia. Ah, as tribulações da beleza!Embora o Botox não vá para o cérebro (o veneno não consegue cruzar a barreira hematoencefálica), ele parece afetar a habilidade de seus usuários de pensar. Tais descobertas podem deixar perturbados aqueles que provaram do Clostridium botulinum. Não que dê para notar.
Tradução de Adriano Scandolara.