A atenção dos argentinos se divide entre a crise internacional e a ameaça de um novo locaute do setor agropecuário. Representantes das entidades rurais, agrupados na denominada Comissão de Enlace de Entidades Agropecuárias, estão reunidos para avaliar a proposta de paralisação por três dias, a partir desta quarta-feira (1). Também discutem a possibilidade de que o locaute seja acompanhado por protestos nas rodovias que funcionam como corredores de escoamento.

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As cenas que fizeram parte do dia-a-dia dos argentinos durante os meses de março a julho deste ano poderiam voltar se as entidades não receberem um sinal positivo por parte do governo. A crise entre o governo e o setor gerou inúmeros protestos que paralisaram o país, provocando desabastecimento. Além disso, a crise resultou na pior derrota do governo no Congresso em cinco anos, quando o vice-presidente Julio Cobos votou contra o aumento das retenções (impostos que incidem sobre as exportações). Porém, nada disso serviu para que o governo de Cristina Kirchner se sentasse para negociar com os produtores rurais as condições para solucionar os problemas do setor.

Como presidente do Senado, conforme determina a Constituição argentina, Cobos desempatou a votação que enterrou o projeto que elevava as retenções e enfraqueceu politicamente a presidente Cristina. Desde então, o governo não deu nenhuma resposta às reivindicações dos produtores rurais. A principal delas é que não haja intervenção nos mercados e que as retenções sejam menores para os pequenos e médios produtores.

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O secretário de Agricultura, Carlos Cheppi, disse à agência oficial de notícias, Télam, que o governo fará anúncios para os produtores, mas não se comunicou com nenhum representante do setor. Para fontes do setor, a informação não interfere nas ações planejadas. "Não tivemos uma resposta aos nossos pedidos e as condições estão dadas para que tenhamos um conflito batendo na porta", afirmou o novo presidente da Sociedade Rural, Hugo Luis Biolcati.

O mal-estar é grande entre os produtores e tudo indica que o clima não vai melhorar. Pelo menos no que diz respeito à uma redução das alíquotas de exportação, já que com a baixa das commodities agrícolas, o governo vai arrecadar menos do que previa no próximo ano. Com uma redução do caixa do Tesouro, dificilmente Kirchner concordaria em baixar as alíquotas porque implicaria em menor arrecadação.

"Se houver uma queda de 30% do atual valor da soja, por exemplo, chegando a valer US$ 300 a tonelada, a Argentina perderia seu superávit comercial", afirmou o economista Orlando Ferreres, da consultoria homônima. O superávit comercial projetado pelo governo no orçamento para a próximo ano é de US$ 12 bilhões, mas com estimativas baseadas nos valores atuais das commodities.

A queda no valor da soja provocaria um problema fiscal grave para a Argentina, mas não o único. Segundo o economista, com um preço menor das commodities agrícolas, os produtores teriam problemas para pagar as retenciones. O imposto da soja, por exemplo, é de 35%. "Se o exportador não pode exportar tanto ou não tem maior margem de lucro porque vende por menor preço e paga muitos impostos, vai plantar menos e a produção argentina poderia cair", vaticinou Ferreres.

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