Devido às sanções aplicadas pela União Europeia à Rússia pela invasão ao território ucraniano, o país tem buscado novos parceiros para estreitar parcerias financeiras. Exemplo é o acordo com o Irã para a conexão dos sistemas bancários das nações, em modelo similar ao Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais (Swift) — sistema do qual seis dos sete maiores bancos russos foram banidos.
A parceria entre os países engloba 52 bancos iranianos e 106 russos. O Irã também sofreu com sanções internacionais envolvendo a plataforma Swift, após decisão dos Estados Unidos em 2018, devido ao programa nuclear desenvolvido pela nação persa.
O Swift foi criado em 1973 e interliga 11 mil bancos e instituições financeiras de mais de 200 países, tendo o Banco Nacional da Bélgica e outras lideranças bancárias globais como entidades fiscalizadoras. A Rússia já havia sido ameaçada de exclusão da plataforma em 2014, quando invadiu a região da Crimeia.
Além do Irã, a Rússia tem buscado estreitar laços financeiros e comerciais com outras nações, como por exemplo a Índia e a China, pertencentes ao grupo dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
As trocas comerciais entre China e Rússia totalizaram 1,28 trilhão de yuanes em 2022 (equivalente a 190 bilhões de dólares), registrando alta de 34,3% em comparação com 2021. Os russos reduziram os impostos para importação de diversas commodities, em especial petróleo e gás natural.
Nos primeiros cinco meses de 2022, a Índia importou 18% de todo o petróleo consumido no país diretamente da Rússia. No mesmo período de 2021, apenas 1% do total importado pela Índia tinha vindo da Rússia.
“As sanções atingem diretamente os países da União Europeia e os Estados Unidos por razões culturais e históricas. Então quando você pega os motivos dos líderes de países como China, Índia e Irã, eles acreditam que a transformação do dólar e do sistema de finanças em uma arma contra qualquer país é uma ameaça não só para a Rússia, mas para seus próprios países para o futuro”, analisa Igor Macedo de Lucena, economista e membro da Chatham House.
Sanções e dependência de aliados trazem risco a longo prazo
Sem aparente resolução a curto prazo da Guerra da Ucrânia, as sanções contra a Rússia devem ser mantidas. Essas restrições ampliam a dependência da economia russa dos novos parceiros comerciais.
“Quanto mais tempo a guerra se prolonga e a Ucrânia receba recursos dos EUA e da União Europeia, mais se torna difícil para o país manter sua capacidade econômica. Aí fica o grande questionamento de até quando o presidente Vladimir Putin vai manter o apoio político dentro do país passando um ou mais anos sem crescimento na economia”, prossegue Lucena.
Pesquisa do Instituto de Viena para Estudos Econômicos Internacionais (WIIW, em inglês) aponta que o Produto Interno Bruto (PIB) da Rússia deve cair 3% em 2023. O principal motivo apontado pela instituição é que o teto de preços do petróleo russo caiu devido às sanções praticadas pela União Europeia e pelos Estados Unidos.
Esse cenário pode agravar a governabilidade de Putin dentro da Rússia, em especial caso os oligarcas russos aumentem a pressão pelo cessar fogo contra a Ucrânia. O presidente russo está no poder desde 2012, tendo ocupado o cargo anteriormente entre 2000 e 2008, embora na prática ele nunca tenha deixando de mandar de fato.
“Esse suporte é fundamental para o Putin. A gente não sabe por quanto tempo a situação real das reservas nacionais e as parcerias internacionais com nações semidemocráticas ou autoritárias vão permanecer. Se existir um acordo suficientemente bom entre um desses aliados com a União Europeia ou Estados Unidos é provável que as prioridades mudem. E isso muda a própria capacidade russa de permanência no conflito”, finaliza Lucena.
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