As autoridades russas atrapalham o trabalho de ONGs de prevenção da Aids por considerá-las “agentes do exterior”, apesar da ameaça de que a epidemia se agrave no país, onde há um milhão de soropositivos.
Em junho, duas organizações passaram a integrar a lista desses agentes estrangeiros, um qualificativo que lembra o que era aplicado aos dissidentes na época soviética. Trata-de da ONG Esvero e da Fundação Andrei Rylkov, que há anos ajudam os doentes de Aids e a população mais vulnerável.
“Que tipo de agentes estrangeiros somos? Todos os dias vamos às ruas para ajudar nossos concidadãos que sofrem de dependência de drogas e que estão abandonados pelo Estado!”, afirma, indignado, Maxime Malychev, da Fundação Rylkov, na liderança do único programa de conscientização sobre os perigos da Aids para os toxicômanos em Moscou.
Desde julho de 2012, uma lei russa obriga as organizações com financiamento estrangeiro e consideradas implicadas em uma “atividade política” a se registrarem como “agentes do exterior”.
Tais associações recebem mais multas e são expostas a auditorias com mais frequência. Na lista de “agentes do exterior” já figuram mais de 130 ONGs, cujas áreas de atuação vão desde os direitos humanos e a ecologia até a fotografia.
As organizações de luta contra a Aids não tinham sido afetadas até fevereiro deste ano, quando os tribunais qualificaram de “agentes do exterior” duas pequenas ONGs, uma na Sibéria e outra na região do Volga.
Meses depois, entraram na lista as duas principais ONGs moscovitas de luta contra a Aids, Esvero e a Fundação Rylkov.
“Já perdemos cinco colaborações com outras associações porque agora as pessoas têm medo”, declara Elena Romaniak, diretora de Esvero, que ficou sabendo da decisão judicial pela imprensa.
Em 2014, as autoridades fizeram uma inspeção em todas as ONGs que trabalham com a prevenção da Aids, sem classificar nenhuma delas como “agente do exterior”.
A Esvero e a Fundação Rylkov vão recorrer da sentença. Ambas admitem receber dinheiro do exterior, principalmente do Fundo Global de Luta Contra Aids, Tuberculose e Malária, com o qual a Rússia colabora, mas afirmam que o fazem devido à indolência das autoridades.
“Gostaríamos de passar para um financiamento puramente russo, mas nossas cinco tentativas de petição de ajuda financeira pública foram rejeitadas”, explica Romaniak.
“O dinheiro público destinado à luta contra o HIV vai parar em organizações com poucos vínculos reais com a prevenção”, protesta Maxime Malychev.
‘Cada vez há mais doentes’
Os poderes públicos preferem se concentrar no tratamento da Aids, em vez de focar na prevenção.
A Rússia proibiu a metadona (narcótico administrado como substituto da heroína) que, segundo muitos especialistas, reduz o risco de contágio, e também substituiu as campanhas informativas por apelos à abstinência.
Em junho, as autoridades proibiram a venda dos preservativos Durex alegando problemas com o registro sanitário.
A fundação da esposa do primeiro-ministro russo, Dimitri Medvedev, lançou em maio uma campanha preventiva, mas esta é insuficiente ante uma ameaça que pode se transformar em epidemia generalizada em cinco anos.
“Não podemos continuar com os métodos de luta atuais. O acesso aos cuidados é caro, cada vez há mais doentes”, afirma Elena Romaniak.
Atualmente há apenas algumas dezenas de ONGs ativas em cerca de 40 cidades russas com programas preventivos para os toxicômanos.
Em 2015, o número de soropositivos ultrapassou um milhão, e mais de 200.000 deles morreram, segundo o centro federal russo de luta contra a Aids.
“Por que ninguém tem em conta o que está acontecendo?”, se pergunta Romaniak. “É como se as autoridades considerassem que não é problema delas”.
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