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As autoridades da Rússia estão preocupadas com a possibilidade de que o velório do líder oposicionista Alexei Navalny, que morreu numa prisão na Sibéria na sexta-feira (16), possa comprometer a reeleição do presidente Vladimir Putin, em pleito a ser realizado entre 15 e 17 de março.
Fontes do governo e do parlamento russos ou próximas do Kremlin disseram ao jornal The Moscow Times, sob a condição de que seus nomes não fossem publicados, que as estratégias cogitadas incluem repressão e censura a atos de homenagem a Navalny (como os que foram debelados no fim de semana) até a bizarra ideia de postergar a entrega do corpo do ativista à família – ou até mesmo nunca fazê-lo.
“Um dos problemas discutidos foi como garantir que o luto e o velório de Navalny não se transformem numa manifestação política e estraguem a eleição de Putin”, disse uma fonte próxima do Kremlin ao Moscow Times. “Várias opções foram propostas, até a muito cínica de não entregar o corpo aos seus familiares antes das eleições.”
Um funcionário do governo da Rússia disse que a comoção nas homenagens a Navalny poderia ser “um problema para o chefe [Putin]” e que uma das hipóteses estudadas é nunca liberar o corpo de Navalny: “Houve muitos precedentes para casos assim ao longo dos anos”.
Uma desculpa poderia ser o fato de que o ativista estava preso por terrorismo (Navalny foi condenado à prisão pelo crime de “extremismo”) ou que a exposição do corpo poderia “espalhar uma doença perigosa”, informou a fonte ao Moscow Times.
Nesta segunda-feira (19), a escritora russa Kira Yarmysh, porta-voz de Navalny, disse que, segundo os investigadores do caso, o corpo do ativista não será liberado pelo menos nas próximas duas semanas porque “ficará sob uma espécie de ‘exame químico’ por mais 14 dias”.
Mais cedo, familiares de Navalny relataram que as autoridades da Rússia haviam se recusado, pelo terceiro dia consecutivo, a liberar o corpo e as acusaram de tentar “ganhar tempo”.