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A Rússia está "muito, muito preocupada" com a situação política na Venezuela, disse Dmitry Shugaev, chefe do Serviço Federal de Cooperação Técnico-Militar | JUAN BARRETO/AFP
A Rússia está "muito, muito preocupada" com a situação política na Venezuela, disse Dmitry Shugaev, chefe do Serviço Federal de Cooperação Técnico-Militar| Foto: JUAN BARRETO/AFP

Após prometer apoio total ao regime do ditador venezuelano Nicolás Maduro, a Rússia está começando a mostrar sinais de dúvida sobre a capacidade dele de sobreviver a um desafio da oposição. 

Embora Moscou não tenha desistido de seu apoio público a Maduro, cada vez mais reconhece que o estado desastroso da economia da Venezuela está drenando o que resta de seu apoio público, segundo afirmaram duas pessoas próximas ao Kremlin. Ao mesmo tempo, a relutância do exército em reprimir seus próprios cidadãos limita sua capacidade de usar a força para acabar com a ameaça ao seu governo, disseram essas pessoas, que pediram para não serem identificadas por se tratar de uma questão delicada. 

"Infelizmente, o tempo não está do lado de Maduro", disse Vladimir Dzhabarov, primeiro vice-presidente do comitê de assuntos internacionais na câmara alta do parlamento russo. "Em uma situação de piora da crise econômica, o clima na sociedade pode se voltar rapidamente contra ele.''  

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Moscou continua cautelosa com os opositores de Maduro, apoiados pelos Estados Unidos, mas está ciente de quão poucas alavancas tem para resgatar um cliente que está sofrendo muito com uma crise econômica profunda e que está muito longe para que a Rússia possa enviar uma força militar significativa para ajudá-lo.

Durante anos, a Rússia, juntamente com a China, tem sido um dos principais apoiadores de Maduro. A parceria começou em 1999, quando o seu antecessor, Hugo Chávez, chegou ao poder. A Rússia investiu bilhões de dólares em empréstimos e investimentos, a maioria da gigante petrolífera estatal Rosneft PJSC, e está lutando para proteger seus interesses enquanto o presidente dos EUA, Donald Trump, aumenta os esforços para derrubar o líder venezuelano, enfraquecendo a economia do país com sanções. Apesar da história de apoio, Moscou descartou o fornecimento de mais dinheiro a um aliado que teve dívidas anteriores renegociadas. 

A Rússia, que também é um importante exportador de armas para a Venezuela, está "muito, muito preocupada" com a situação política no país, disse ao jornal Kommersant Dmitry Shugaev, chefe do Serviço Federal de Cooperação Técnico-Militar. "Mas não estamos inclinados a reduzir a cooperação." 

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O mais recente sinal de alerta para o Kremlin foi o reconhecimento do líder da Assembléia Nacional, Juan Guaidó, como presidente interino pelas principais potências europeias, depois que Maduro se recusou a convocar novas eleições presidenciais. Isto seguiu-se à deserção de um general da força aérea e a tentativa fracassada de Maduro de embarcar 20 toneladas de ouro do país latino-americano para levantar o dinheiro necessário. 

Embora autoridades menores tenham apoiado o ditador venezuelano, o presidente russo, Vladimir Putin, não fez nenhuma declaração pública em apoio a Maduro desde o início da crise, além de um telefonema para ele em 24 de janeiro. 

A Venezuela tem uma importância estratégica limitada para a Rússia, embora ofereça significado simbólico ao demonstrar o alcance de Putin em uma região vista como o quintal de Washington. A Rússia não tem capacidade de enviar forças para a Venezuela assim como fez ao apoiar o ditador sírio Bashar al-Assad, limitando-se a ações publicitárias como a visita de dois bombardeiros nucleares em dezembro. 

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As conversações entre o governo venezuelano e a oposição são a única saída para a crise "caso contrário, haverá simplesmente o tipo de mudança de regime em que o Ocidente se envolveu muitas vezes", disse o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, na terça-feira (5). 

Interesses da Rússia na Venezuela

Embora autoridades russas tenham descartado publicamente as negociações com a oposição, os contatos provavelmente estão ocorrendo nos bastidores, segundo analistas em Moscou. 

"Hoje Maduro está no controle do país, mas a cada dia ele tem menos influência enquanto sua legitimidade é contestada", disse Dmitry Rozental, especialista em Venezuela no Instituto de Estudos Latino-Americanos, de Moscou. para o poder estão desaparecendo ". 

Guaidó fez um aceno à China com a promessa de manter acordos assinados sob as leis aprovadas pela Assembleia Nacional, cujos poderes foram retirados por Maduro em 2017 Uma Venezuela democrática seria uma aposta melhor para proteger investimentos russos e chineses, disse ele na semana passada. 

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A Assembleia Nacional, controlada pela oposição, criticou o crescente papel da Rosneft, liderada por um poderoso aliado de Putin, Igor Sechin, que tem participações em cinco empreendimentos petrolíferos venezuelanos. A companhia informou nesta terça-feira que a PDVSA, produtora estatal de petróleo da Venezuela, pagou metade de sua dívida à Rosneft no ano passado, devendo ainda US$ 2,3 bilhões no final de 2018. 

A Rosneft assumiu uma participação de 49,9% na subsidiária americana da PDVSA, a Citgo Petroleum, como garantia para um empréstimo de US$ 1,5 bilhão em 2016, e assinou um acordo em 2017 para operar dois campos de gás natural offshore. Embora esses acordos possam ser cancelados porque não foram endossados por legisladores, a Rússia pode negociar uma saída, disse Rozental. 

A empresa petrolífera russa está "constantemente monitorando a situação política e econômica na Venezuela", disse o primeiro vice-presidente Eric Liron em teleconferência com investidores na terça-feira. A empresa considera a instabilidade política um "fenômeno temporário" que não tem impacto significativo em seus projetos existentes, afirmou.

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Uma missão russa em Caracas observou a escala do colapso econômico da Venezuela quando visitou o país em novembro, antes do início da crise política. A equipe, que circulava em carros blindados, ficou chocada com a pobreza de venezuelanos comuns nas ruas, segundo um oficial russo que fez parte da missão. 

Com as exportações venezuelanas de petróleo no pior patamar dos últimos 28 anos e tendendo a diminuir ainda mais devido à sanções americanas, a Rússia sabe que o verdadeiro culpado é a má administração das maiores reservas comprovadas do mundo, disse Andres Landabaso Angulo, professor da Universidade de Economia Plekhanov, de Moscou . 

Os EUA e seus aliados na região estão determinados a derrubar Maduro, enquanto a Rússia não pode arriscar um grande confronto no quintal de Washington, disse Ivan Konovalov, diretor do Centro de Estudos Estratégicos de Tendências, em Moscou. 

"No final das contas, Guaidó não será uma tragédia para a Rússia", concluiu.

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