A ONG de direitos humanos Memorial, que investiga a repressão ocorrida na Rússia durante o período soviético, relatou que homenagens a soldados mortos na guerra contra a Ucrânia se proliferam pelo país, ao mesmo tempo em que memoriais dedicados às vítimas do comunismo estão sendo vandalizados ou retirados.
Em entrevista ao jornal Moscow Times, Alexandra Polivanova, membro da direção da Memorial, disse que a associação apurou que ao menos 3.187 memoriais em homenagem a militares russos mortos na Ucrânia foram inaugurados na Rússia desde o início da invasão, em fevereiro do ano passado, o que representa uma média de cinco por dia.
Esses memoriais incluem grandes instalações, estátuas, placas, murais e outros tipos de homenagem.
Porém, segundo a Memorial, no mesmo período, pelo menos 23 memoriais na Rússia dedicados às vítimas do comunismo foram vandalizados ou desmantelados em todo o país.
“Temos certeza de que todas essas ações são apoiadas pelo governo de uma forma ou de outra”, disse Polivanova.
Ela destacou que memoriais que homenageiam grupos étnicos perseguidos durante a expansão militar russa no período soviético são mais visados, como uma cruz de granito, em homenagem aos poloneses vitimados pelo stalinismo, que em julho desapareceu do Cemitério Memorial Levashovo, em São Petersburgo, onde estão enterradas mais de 45 mil vítimas do período do Grande Terror implantado pelo ditador Josef Stálin.
Meses antes, um memorial às vítimas ucranianas dos expurgos stalinistas foi vandalizado no mesmo cemitério, segundo o Moscow Times.
“Não é surpreendente que tais monumentos não sejam bem-vindos num momento em que a Rússia está novamente conduzindo uma guerra imperial de conquista”, disse Polivanova.
Criada em 1989, a Memorial foi proibida em dezembro de 2021 por um tribunal de Moscou de continuar suas atividades na Rússia, decisão que foi confirmada no ano seguinte por uma corte de apelações.
Em outubro de 2022, a Memorial ganhou o Prêmio Nobel da Paz juntamente com a organização ucraniana de direitos humanos Centro para as Liberdades Civis e o ativista bielorrusso Ales Bialiatski.