O Comitê de Instrução da Rússia (IRC) deu nesta sexta-feira (23) um ultimato à mãe do líder opositor russo Alexei Navalny para que aceite um enterro secreto, a fim de evitar manifestações públicas contra o Kremlin, disseram os correligionários do falecido político.
“Há uma hora, um instrutor ligou para a mãe de Navalny e lhe deu um ultimato. Ou dentro de uma hora ela concorda com um enterro secreto sem uma despedida pública, ou Alexei será enterrado no complexo [da prisão]”, denunciou a porta-voz de Navalny, Kyra Yarmish, em seu canal no Telegram.
Yarmish acrescentou que a mãe do opositor, Liudmila Navalnaya, se recusou a negociar com o IRC, alegando que seus investigadores “não têm o poder de decidir como e onde enterrar seu filho”.
“Ela exige que a lei seja respeitada, o que obriga os investigadores a entregarem o corpo dentro de dois dias após estabelecerem a causa da morte”, destacou.
Yarmish afirmou que a mãe já assinou o atestado de óbito na cidade de Salekhard e, portanto, “esses dois dias terminam amanhã, sábado”.
“Ela insiste que as autoridades lhe permitam realizar o funeral de acordo com as tradições cristãs”, acrescentou.
A equipe de Navalny entrou hoje com outro processo na Justiça, de acordo com o artigo 244 do Código Penal da Rússia, sobre “profanação do corpo do falecido”.
A mãe do opositor russo acusou as autoridades em um vídeo na quinta-feira de ameaçá-la e de querer enterrar seu filho “em segredo” para que seus apoiadores não pudessem se despedir do inimigo número 1 do presidente russo, Vladimir Putin.
“Eu não concordo com isso. Quero que vocês, aqueles que amavam Alexei, para quem sua morte foi uma tragédia pessoal, tenham a oportunidade de se despedir dele”, disse.
Há alguns dias, a mãe do opositor também enviou uma carta ao presidente russo pedindo o corpo de seu filho. As autoridades do país sustentam que ele morreu repentinamente em 16 de fevereiro de “causas naturais”, uma versão rejeitada por seus correligionários.
Vários artistas, intelectuais e jornalistas russos no exílio aderiram à campanha lançada pelos aliados de Navalny em seu canal no Telegram pedindo a devolução de seu corpo.
A viúva de Navalny, Yulia, que foi recebida ontem em San Francisco pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, acusou diretamente Putin de ordenar o assassinato de seu principal oponente político.
Em seguida, Biden anunciou o maior pacote de sanções contra o Kremlin desde o início da guerra na Ucrânia, há dois anos, devido ao “flagrante desrespeito de Putin pela vida humana”.
O Kremlin negou veementemente todas as alegações e pediu que os resultados da autópsia fossem aguardados. Putin, por sua vez, não se referiu publicamente ao caso.