O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse neste domingo (27) que a Rússia deve retirar suas tropas do país antes que qualquer documento seja assinado sobre a não adesão da Ucrânia à Otan e as garantias de segurança que, em troca, Kiev exige de vários países, como Turquia e Reino Unido.
"Precisamos de um acordo com o presidente (russo, Vladimir) Putin. Os fiadores não assinarão nada se houver tropas", garantiu Zelensky em entrevista à imprensa russa independente, incluindo o portal "Meduza" (localizado na Letônia) e jornalistas da emissora de televisão proibida "Dozhd", do jornal "Kommersant" e o escritor Mikhail Zygar.
O órgão regulador de comunicações da Rússia, Roskomnadzor, havia afirmado que esses meios de comunicação não deveriam publicar a entrevista, e alertou que "vai determinar o grau de responsabilidade e tomar medidas de resposta", segundo o "Meduza".
Na entrevista em questão, Zelensky destacou que "é impossível" que os líderes do Reino Unido, Boris Johnson; dos Estados Unidos, Joe Biden; da Polônia, Andrzej Duda; e da Turquia, Recep Tayyip Erdogan; assinem qualquer documento como possíveis fiadores enquanto a guerra está em curso.
Além disso, o presidente ucraniano confirmou que está disposto a aceitar o status neutro e não nuclear do país, como exige a Rússia, em troca de garantias de segurança.
"Isso está sendo trabalhado profundamente, mas não quero que seja outro documento como o Memorando de Budapeste" de 1994, que concedeu garantias de segurança à Ucrânia em troca da renúncia ao arsenal nuclear herdado da antiga União Soviética e que Zelensky disse que nunca se materializou. "Estamos interessados em que seja um acordo sério", enfatizou.
Zelensky ressaltou ainda que está disposto a se sentar com Putin "em qualquer lugar do mundo" para chegar a um acordo "com assinaturas, selos e até sangue" no documento.
"Isso bastaria para iniciar o processo de retirada. As tropas devem ser retiradas, os fiadores vão assinar tudo e fim", frisou.
No entanto, indicou que mesmo assim o trabalho não estará concluído, porque a Ucrânia terá de alterar sua Constituição, uma vez que esta consagra a aspiração do Estado de aderir à Otan e isso pode demorar até um ano.
Independência de Donetsk e Lugansk "deve ser abordada e resolvida"
Quanto à exigência russa de que a Ucrânia reconheça a península da Crimeia como parte da Rússia e a independência das autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk, Zelensky declarou que é uma questão que "deve ser abordada e resolvida".
"Eu digo que é um compromisso. Vamos voltar para antes de tudo isso começar (24 de fevereiro) e tentaremos resolver a complexa questão de Donbass", comentou.
Zelensky salientou também que outros pontos que estão na mesa de negociações com a Rússia, como a proteção do idioma russo na Ucrânia, estão sendo discutidos, mas explicou que está disposto a aceitar um compromisso.
Nesse sentido, disse que o compromisso poderia seguir a fórmula do "respeito mútuo pelas línguas dos cidadãos dos países vizinhos".
"Quero assiná-lo com todos os países vizinhos. Estou interessado na Rússia, Hungria, Polônia, Romênia. Temos muitas minorias, nacionalidades e esse acordo deve ser suficiente para respeitar certas línguas em nosso país", ressaltou.
O presidente ucraniano afirmou ainda que os termos "desnazificação" e "desmilitarização" não estão na mesa como a Rússia queria porque ele se recusa.
"Putin e seu círculo estão prolongando a guerra e que o que está acontecendo é pior do que uma guerra", argumentou Zelensky, acrescentando que seu objetivo é "minimizar o número de vítimas e encurtar a duração" desse conflito.
Além disso, sugeriu que não gosta da ideia da Polônia enviar um contingente de paz para a Ucrânia, ressaltando que "não precisamos de um conflito congelado no território de nosso estado".
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