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Nas próximas semanas, tanto a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) como a Rússia vão lançar uma série de jogos de guerra. Esses jogos não são para divertimento - ao contrário, são sessões de treinamento para centenas de milhares de soldados, milhares de aviões de combate e flotilhas de navios de combate. Se bem que ninguém morrerá (a não ser por acidente, uma ocorrência que não é incomum em tais exercícios), as mensagens que vem e vão são claras: Estamos preparados para a guerra.

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O exercício da Rússia é chamado Vostok - que significa "leste" - e será realizado principalmente a leste dos Montes Urais. É o maior exercício militar da Rússia desde os tempos soviéticos (em 1981) e envolverá 300 mil soldados e mais de mil aeronaves militares. Cabe destacar que a China participará com milhares de tropas a operar ao lado dos russos (haverá também um contingente simbólico de tropas da Mongólia, que tem sido parceiro ocasional da Rússia e da Otan). 

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A mensagem para o Ocidente é óbvia: a Rússia e a China podem trabalhar juntas militarmente contra a Otan no Oriente ou nos EUA e seus aliados no Pacífico. O romance futurista "Ghost Fleet", de Peter Singer e August Cole, oferece uma excelente descrição de uma guerra de alta tecnologia que começa inesperadamente no Pacífico com a Rússia e a China aliadas contra os EUA. Estes jogos de guerra proporcionam uma prévia do que essa atividade militar poderia parecer e deveria ser muito preocupante para o planejamento militar americano. 

A OTAN conduzirá seu próprio exercício militar, chamado Trident Junction 2018. Ele ocorrerá nas fronteiras do Norte da aliança e envolverá 40 mil soldados dos 29 países, algumas centenas de aviões e dezenas de navios de guerra. Apesar de não ser espetacularmente grande como a russa Vostok, servirá como um "exercício de graduação" para a nova Força de Lança da OTAN, uma estrutura altamente móvel que pode colocar tropas de combate da OTAN nos países bálticos para repelir uma invasão russa em poucos dias. 

Liderada por uma unidade alemã altamente motivada que poderia estar totalmente pronta para lutar em 48 horas, a estrutura de ponta também inclui as forças holandesas e norueguesas. O exercício incluirá uma invasão simulada de Noruega por fuzileiros navais dos Estados Unidos. Este evento robusto é parte de uma grande melhoria em relação à estrutura anêmica de prontidão na Otan há apenas uma década. 

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Cabe destacar que duas forças militares de alta capacidade que não são integrantes da OTAN, mas que são parceiros de coalizão - Suécia e Finlândia - participarão. Quando era comandante supremo da Otan, há alguns anos, admirava profundamente o profissionalismo e a excelência militar de ambas as nações, que participaram com a OTAN em muitas operações globais. 

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Os russos estão profundamente preocupados com a possibilidade de a Suécia e a Finlândia considerem se integrar à Otan, e seu envolvimento na Trident Junction irá alimentar esses temores em Moscou. Tudo isto significa tensão e a possibilidade de erro de cálculo. Devemos prestar atenção especial a quatro elementos-chave desses jogos muito sérios. 

O profissionalismo das tropas nos dois lados 

Primeiro, é necessário reconhecer que há recados em ambos os lados. No caso russo (e especialmente sob a perspectiva do presidente Vladimir Putin), os jogos sinalizam a alta capacidade e profissionalismo das tropas do país. Isto se baseia no orgulho patriótico que foi criado pela invasão da Ucrânia e pela anexação da Crimeia e é um sinal para a população, em geral, de que seus militares são mais do que capazes de manter esses ganhos. 

Quanto à OTAN, a mensagem é similar e dirigida aos estados que fazem fronteira com a Rússia - Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia e Noruega - e parceiros da OTAN Finlândia e Suécia. No Ocidente, a mensagem é de capacidade e credibilidade: uma disposição para lutar, se necessária. 

O papel chinês 

Em segundo lugar, o papel da China é cheio de nuances. Os jogos russos foram originalmente concebidos como um elemento de dissuasão não para a Otan, mas para a China. Sejamos francos: a China, com sua população imensamente maior e a necessidade de crescimento econômico, olha para os vastos trechos da Sibéria, ricos em recursos naturais, da mesma forma que um cachorro olha para um filé de costela. No entanto, o crescente nacionalismo por parte do presidente Xi Jinping e o desconforto com as políticas comerciais agressivas do governo Trump faz com que a China busque desenvolver um relacionamento mais forte com Moscou. E a Rússia, frustrada com a antipatia dos EUA (impulsionada atualmente não pela Casa Branca, mas pelo Congresso) está disposta a se aproximar da China. Se bem que o relacionamento de longo prazo é tenso, é uma parceria (e um jogo de guerra) de conveniência no momento. 

Melhorias militares 

Terceiro, existe uma melhoria militar real que deriva de tais exercícios. Impulsionar os aliados europeus e o Canadá para deslocar tropas permite um aumento da interoperabilidade militar em muitas frentes: sincronização técnica das comunicações de rádio; alinhamento dos alvos de aviões militares de diferentes nações (um desafio significativo na operação da Otan na Líbia, por exemplo); operações de guerra anti-submarina altamente complexas e manobras de infantaria de várias unidades. Todos estes exercícios são desafiadores, e a prática fará com que ambos os lados estejam mais próximos do ideal. 

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A dimensão marítima 

Finalmente, vale a pena olhar especificamente para a dimensão marítima dos exercícios da Rússia e da Otan. Não é uma coincidência que a operação da Otan seja comandada não por um general, mas sim por um almirante norte-americano de quatro estrelas, Jamie Foggo. Ex-comandante das forças submarinas da Otan e da lendária Sexta Frota dos EUA no Mediterrâneo, Foggo tem refletido profundamente (e frequentemente publicado) sobre operações marítimas no atual ambiente OTAN-Rússia. Haverá importantes grupamentos marítimos, tanto da OTAN como da Rússia, operando no Mar Báltico, no Mar Negro, no Mediterrâneo Oriental e até mesmo no Ártico. 

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A boa notícia, de uma perspectiva ocidental, é que as terrestres, aéreas, marítimas, de operações cibernéticas e especiais dos EUA e seus aliados trabalharão juntas e emergirão mais capazes e interoperáveis. A má notícia é que as forças da Rússia também o farão, e seu estranho alinhamento com a China - pelo menos neste momento - causará mais preocupação globalmente. 

Os EUA e seus aliados continuarão a treinar e se preparar para o combate, esperando que uma melhor prontidão crie dissuasão e reduza a tendência ao aventureirismo de ambos os lados. Mas não devemos nos enganar: esses "jogos" são negócios mortíferos.

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*James Stavridis é almirante da reserva da Marinha americana, ex-comandante militar da Otan e reitor emérito da Fletcher School of Law and Diplomacy daTufts University. Ele também é consultor executivo operacional no Carlyle Group.