A queda de um avião da Malaysia Airlines no Leste da Ucrânia nesta quinta-feira (17), perto da fronteira russa, matando as 298 pessoas a bordo, gerou uma forte troca de acusações entre os governos ucraniano e russo, além de separatistas pró-russos que controlam a região - todos negaram envolvimento no caso - e pode acirrar ainda mais a disputa na região.
Logo após o acidente, o Ministério do Interior ucraniano afirmou que o voo MH17 foi, provavelmente, abatido por um míssil Buk de fabricação russa. O uso de míssil foi depois confirmado por fontes da Inteligência americana, e os EUA estão agora tentando determinar quem teria feito o disparo. Separatistas pró-russos, por sua vez, disseram que a aeronave, que ia de Amsterdã para Kuala Lumpur, fora derrubada em território ucraniano por um jato do governo local.
O presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, determinou a criação de uma comissão para investigar o incidente e disse tratar-se de um "ato terrorista". O Boeing 777 saiu de Amsterdã pela manhã com 298 pessoas a bordo - 283 passageiros e 15 tripulantes. "Isso não é nem um acidente nem uma catástrofe, é um ato terrorista", afirmou o porta-voz de Poroshenko, Sviatoslav Tsegolko. "Este é o terceiro incidente trágico nos últimos dias depois de aeronaves militares ucranianas An-26 e SU-25 terem sido derrubadas a partir do território russo. Nós não descartamos que este avião também tenha sido abatido e ressaltamos que o Exército (ucraniano) não realizou nenhuma ação para destruir alvos no ar".
Nos EUA, o vice-presidente americano, Joe Biden, reforçou a teoria ucraniana. "O avião foi aparentemente derrubado, e digo aparentemente porque não temos todos os detalhes. Não é um acidente. A aeronave caiu perto da cidade Shakhtarsk, na aldeia de Grabovo, região de Donetsk", área controlada por separatistas pró-Rússia, que vêm lutando contra o Exército ucraniano. Nesta quinta-feira, insurgentes sugeriram uma trégua de dois ou três dias para os trabalhos de regate.
As versões são muitas. Segundo uma fonte do Ministério da Defesa da Ucrânia, os rebeldes teriam atingido por engano o avião, numa tentativa de abater uma aeronave de carga da Força Aérea Ucraniana, que fora identificada pela defesa aérea russa. Não muito longe dali, segundo a fonte, estaria voando um Iliushin 76, com comida para soldados de Kiev.
Força bélica
Rússia e Ucrânia possuem mísseis Buk terra-ar, e funcionários do Ministério da Defesa e da Segurança Nacional ucraniano alegaram que os rebeldes também têm o armamento. Fontes russas afirmaram, por sua vez, que militares ucranianos teriam deslocado uma bateria de mísseis para a região de Donetsk um dia antes - de fato, um lançador foi visto por jornalistas mais cedo, perto da cidade ucraniana de Snijne, também tomada pelos rebeldes.
Os separatistas, no entanto, negaram veementemente seu envolvimento no caso, alegando não possuírem mísseis capazes de atingir alvos a uma altitude de dez mil metros. O jornal britânico "Guardian", no entanto, citou uma reportagem da TV estatal russa do fim de junho afirmando que rebeldes em Donetsk teriam tomado o controle de uma instalação de defesa ucraniana com sistemas Buk.
Nesta quinta-feira, os pró-russos revelaram ter encontrado uma caixa-preta que poderia ser do avião, mas depois negaram a informação. "Nossos mísseis podem alcançar no máximo três mil ou quatro mil metros", afirmou Alexandre Borodai, primeiro-ministro da autoproclamada República Popular de Donetsk, culpando a Força Aérea da Ucrânia pela queda do avião, que qualificou de "provocação intencionada".
Afirmando basear-se em interceptações de conversas telefônicas, o chefe de Segurança do Estado da Ucrânia, Valentyn Nalivaychenko, acusou dois oficiais russos de envolvimento na derrubada da aeronave e disse que eles devem ser punidos "pelos crimes".
A Agência de Inteligência da Ucrânia (SBU) divulgou dois áudios supostamente interceptados entre rebeldes e oficiais russos em que se fala da derrubada de um jato civil. Na primeira ligação, o comandante rebelde Igor Bezler diz a um oficial de Inteligência militar da Rússia que os separatistas derrubaram um avião. Na segunda, um deles, que está no local do acidente, afirma que o ataque com um míssil foi efetuado por uma unidade de insurgentes 25 quilômetros ao norte dali.
Putin
Já o presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou desconhecer que os rebeldes tivessem lançadores de mísseis Buk. E, segundo ele, mesmo que o possuíssem, não poderiam operá-lo.
Até uma versão de que o alvo poderia ser o presidente russo foi noticiada pela agência estatal do país. "Posso dizer que o avião do presidente russo e o Boeing malaio se cruzaram no mesmo ponto e no mesmo nível de voo. Isso aconteceu perto de Varsóvia, numa altitude de 10.100 metros. O avião do Vladimir Putin estava lá às 16h21m, hora de Moscou, o avião malaio às 15h44m, hora de Moscou", disse uma fonte da Aviação Russa.
Companhia
Segundo a Malaysia Airlines, empresa que já protagonizara um acidente aéreo em março, o avião partiu do aeroporto de Schiphol, em Amsterdã, às 12h15 (horário local) e perdeu contato três horas mais tarde, a 60 km da fronteira entre os países. Ele era esperado em Kuala Lumpur, na Malásia, na manhã seguinte. A tripulação não relatou problemas durante o voo.
As informações sobre os passageiros a bordo são incompletas. Entre as vítimas, estariam 154 holandeses, 27 australianos, 38 malaios, 11 indonésios, seis britânicos, quatro franceses, quatro belgas, quatro alemães, três filipinos e um canadense, entre outros, e um total de 80 crianças. O maior número de holandeses deve-se ao fato de o voo ser compartilhado com a companhia local KLM. Nesta quinta-feira, as autoridades ucranianas fecharam as rotas aéreas sobre o Leste do país.