A Rússia enviou para a Venezuela dois bombardeiros com capacidade nuclear para manobras militares conjuntas entre os dois países. Segundo o Ministério da Defesa venezuelano, esses exercícios servirão para "preparar a defesa do país caso seja necessário". No fim de semana, o governo chavista voltou a aumentar a retórica contra os Estados Unidos, a quem acusa de sabotagem econômica.
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Os dois aviões Tu-160 chegaram ao aeroporto de Maiquetía, nos arredores de Caracas nesta segunda-feira, 10, depois de uma viagem de 10 mil quilômetros. Segundo o ministério de Defesa da Rússia, as aeronaves percorreram o espaço aéreo internacional "estritamente" dentro da lei e foram escoltados, em alguns momentos da viagem, por caças noruegueses.
Os aviões, que foram utilizados nas operações militares russas na Síria, foram acompanhados também de um avião cargueiro An-124 e de um avião de passageiros Il-62. O Tu-160 é capaz de carregar mísseis nucleares e convencionais com um alcance de até 5,5 mil quilômetros.
"Devemos dizer ao povo venezuelano e ao mundo que cooperamos (com a Rússia) em várias áreas e também nos preparando para a defesa da Venezuela até o último palmo de terra caso seja necessário", disse o ministro de Defesa venezuelano, Vladimir Padrino.
Repercussão
Analistas internacionais acreditam que a manobra russa é um recado a Washington para sinalizar que a Venezuela não está sozinha. Em entrevista ao jornal The Guardian, Harold Trinkunas, especialista em Venezuela na Universidade de Stanford, disse que o desdobramento foi "muito provavelmente um sinal de apoio ao regime de Maduro, em um momento em que tanto a Rússia quanto a Venezuela estão experimentando crescentes tensões com os Estados Unidos".
O secretário de Estado dos EUA, Michael Pompeo, criticou o governo russo por enviar "bombardeiros do outro lado do mundo" para a Venezuela.
"O povo russo e venezuelano deveria ver isso pelo que é: dois governos corruptos esbanjando recursos públicos e esmagando a liberdade enquanto seus povos sofrem", escreveu Pompeo no Twitter.
#Russia's government has sent bombers halfway around the world to #Venezuela. The Russian and Venezuelan people should see this for what it is: two corrupt governments squandering public funds, and squelching liberty and freedom while their people suffer. pic.twitter.com/bCBGbGtaHT
â Secretary Pompeo (@SecPompeo) 11 de dezembro de 2018
A Rússia retrucou. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse a repórteres que é "absolutamente inadequado" que Pompeo chame o governo russo de corrupto.
Os EUA e a União Europeia lideraram um esforço para impor sanções à Venezuela ao tentar isolar o país no cenário mundial. Os EUA acusaram o ditador venezuelano Nicolás Maduro de prejudicar as instituições democráticas em meio à crescente crise política e econômica do país.
Depois de se encontrar com o presidente Vladimir Putin em Moscou no início deste mês, Maduro disse que conseguiu apoio da Rússia para aumentar a produção de petróleo em 1 milhão de barris por dia, bem como para investimentos em mineração e manutenção de armas e sistemas de defesa. Os investimentos somam, segundo o próprio Maduro, US$ 6 bilhões (R$ 23,4 bilhões).
A última vez em que a Rússia adotou medidas similares de enviar aviões de combate para a Venezuela foi durante a Guerra da Geórgia, em 2008, quando as tensões entre Moscou e Washington cresceram em virtude do apoio americano à ex-república soviética do Cáucaso.