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Mobilização de reservistas

Rússia manda jovens sem treinamento militar para morrer na Ucrânia

Na semana passada, após a repercussão de relatos de mortes de reservistas recém-mobilizados, Putin disse que determinaria uma inspeção no treinamento desses soldados (Foto: EFE/EPA/RAMIL SITDIKOV/KREMLIN/SPUTNIK)

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Em 21 de setembro, o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou a convocação de 300 mil reservistas para aumentar o esforço de guerra na Ucrânia, dos quais 222 mil haviam sido mobilizados até o final da semana passada.

Quando Putin fez o anúncio, o governo da Rússia assegurou que seriam chamados apenas reservistas que já haviam servido nas forças armadas e que tinham experiência de combate ou habilidades militares especializadas, e eles ainda seriam submetidos a treinamento antes de serem deslocados para o campo de batalha.

Entretanto, vários relatos indicam que não tem sido assim e que o Kremlin está enviando jovens russos despreparados para o front e sem equipamentos adequados.

Na semana passada, o serviço russo da BBC divulgou a história de cinco soldados da região de Cheliabinsk recentemente mortos na Ucrânia. Três desses militares tiveram seus nomes confirmados pela rede britânica: Anton Borisov, Igor Yevseev e Timur Akhmetshin.

Segundo parentes e amigos próximos desses soldados, eles foram recrutados em Cheliabinsk entre 26 e 29 de setembro. No início de outubro, foram deslocados para lutar primeiro em Luhansk e depois em Kherson, regiões ucranianas que a Rússia anexou após referendos denunciados como fraudulentos pelo Ocidente e pela Ucrânia.

Na semana passada, as famílias dos cinco soldados receberam a informação de que eles haviam sido mortos. O escritório de recrutamento da região de Cheliabinsk confirmou à agência de notícias russa Tass os óbitos.

A BBC teve acesso à gravação de um telefonema de outro soldado de Cheliabinsk, hospitalizado na Crimeia, no qual ele descreveu que os cinco soldados mortos e muitos outros foram enviados para lutar na Ucrânia sem qualquer tipo de treinamento.

“No dia em que chegamos [à frente de batalha], sem nunca ter usado uma arma, fomos alocados em um grupo de assalto com apenas dois lançadores de granadas - éramos pura bucha de canhão. Tive que ler um manual sobre como usá-los [os lançadores de granadas]”, disse o soldado, que afirmou ter visto a posição onde estava Timur Akhmetshin ser “arrasada” e depois ele ser “carregado numa maca”, antes de ser declarado morto.

Também na semana passada, a jornalista russa Natalya Loseva, editora-chefe adjunta do canal estatal RT, relatou no Telegram o caso de Aleksey Martynov, um cidadão de 28 anos que havia chefiado um departamento na prefeitura de Moscou e foi morto na Ucrânia no último dia 10.

“Ele foi mobilizado em 23 de setembro. Quando era mais jovem, havia servido no regimento Semyonovsky. Tinha zero experiência de combate. Foi enviado para a frente de batalha apenas alguns dias depois. Ele morreu heroicamente em 10 de outubro. Líderes militares, agora não é hora de mentir. Vocês não têm o direito de mentir, e agora [isso] é um crime”, escreveu Loseva.

Na semana passada, Putin disse que, devido aos vários relatos de que soldados estavam sendo enviados para a guerra na Ucrânia sem treinamento, iria instruir o Conselho de Segurança a inspecionar a capacitação dos reservistas recém-mobilizados. “Todos os cidadãos chamados para o recrutamento devem receber treinamento”, enfatizou.

Além de não ser treinada, parte do novo contingente russo também não está tendo acesso a equipamentos adequados para a guerra. Vídeos postados nas redes sociais mostraram soldados recebendo armas enferrujadas e um relatório da Inteligência de Defesa Britânica destacou que muitos são obrigados a comprar seus próprios equipamentos de proteção.

Segundo o documento, um dos itens em falta é o colete 6B45, obrigatório para unidades de combate. Como os soldados estão sendo obrigados a comprá-los por conta própria, a alta procura está fazendo o preço do equipamento disparar: sites russos estão vendendo o colete por 40 mil rublos (aproximadamente R$ 3,4 mil), enquanto em abril custava 12 mil rublos (cerca de R$ 1 mil).

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