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Soldado ucraniano em barricada no litoral do país, perto da cidade de Odesa, em março de 2022
Soldado ucraniano em barricada no litoral do país, perto da cidade de Odesa, em março de 2022| Foto: Sedat Suna/EFE/EPA

Quase seis meses depois da invasão russa à Ucrânia, o cessar-fogo ainda parece distante. Depois de priorizar os ataques à capital ucraniana, Kyiv, deixar Mariupol em cinzas e tentar dominar as cidades da Bacia do Donbas, os russos se voltam com força a um ponto estratégico do país vizinho: o litoral sul, em especial Odesa, conhecida como “a pérola do Mar Negro”. 
 
Além de ser economicamente rica, de solo produtivo, é a porta de entrada e de saída do país, o que a coloca dentro de um dos principais objetivos militares e geopolíticos do presidente russo, Vladimir Putin, nessa invasão.

Potencial comercial da costa ucraniana 

Antes da guerra, a Ucrânia era o terceiro maior exportador de trigo do mundo e o quarto maior exportador de milho. O país costumava exportar 5 milhões de toneladas de trigo por mês e, junto com a Rússia, respondia por 30% das exportações mundiais de grãos. 
 
Durante os meses de conflito, a Rússia demonstrou que é capaz de impedir que os cereais do país vizinho saiam pelo Mar Negro e pelo Mar de Azov.

A Ucrânia teve que se desdobrar para transportar uma parte muito pequena de sua produção por terra, através da Romênia e de ferrovias alemãs. A exportação de trigo caiu 80% logo no primeiro mês.

Contexto geopolítico 

"Abrir essas rotas marítimas exigiria um esforço militar muito significativo de um país ou mesmo um grupo de países”, disse o chefe do Estado-Maior dos EUA, general Mark Milley, apontando para o bloqueio feito por minas e pela Marinha russa no litoral da Ucrânia.

Putin usa a crise agrícola para tentar romper seu isolamento comercial. "A Rússia está pronta para ajudar a encontrar opções para a exportação de grãos sem impedimentos, incluindo grãos ucranianos que estão em portos do Mar Negro", disse o presidente russo em junho, em uma reunião com o presidente francês, Emmanuel Macron, e o chanceler alemão, Olaf Scholz. 
 
Se essa é a realidade durante o conflito, é possível imaginar como seria se a Rússia dominasse definitivamente a costa litorânea e os ucranianos precisassem pedir permissão e pagar aos russos para exportar pelo mar.

Importância militar do litoral 

Além da vantagem comercial, o litoral ucraniano representa, para a Rússia, uma segurança militar. Pelo mar, é mais fácil descarregar tropas, com menor risco de perder combatentes. 
 
“Se você não tem o controle da praia, precisa descarregar as tropas em desembarques anfíbios [da água para a terra], com perdas que podem significar uma derrota”, destacou Marcelo Suano, professor de Relações Internacionais e especialista em assuntos militares.

Conquistando o litoral, a Rússia pode cercar a Ucrânia, transformando-a em um país mediterrâneo, bloqueando qualquer saída de produtos, circulação das tropas e até movimentação da população. “Um adversário que não tem saída para o mar será sempre dependente daquele que tem”, reforçou Suano.

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