Com esportes bizarros, Olimpíada alternativa da Rússia tenta ofuscar Paris

Alvo de sanções econômicas do Ocidente por iniciar a guerra na Ucrânia, a Rússia se tornou pária também no mundo esportivo devido à agressão ao país vizinho.

Após clubes russos e a seleção de futebol terem sido banidos de competições internacionais, o país foi impedido de participar da Olimpíada de Paris, que começa no próximo dia 26.

Apesar disso, 16 atletas da Rússia e o mesmo número de Belarus (também banida devido ao apoio aos russos) ainda competirão nos Jogos na capital francesa, mas sob uma bandeira verde com as iniciais AIN (Atletas Individuais Neutros).

Vale lembrar que, devido aos escândalos de doping, atletas da Rússia já haviam sido proibidos de competir sob a bandeira do país nos Jogos de Inverno de 2018, em Pyeongchang (Coreia do Sul), e de 2022, em Pequim, e na Olimpíada de Verão de Tóquio, em 2021: os esportistas russos tiveram que participar das disputas sob a bandeira dos Atletas Olímpicos da Rússia ou do Comitê Olímpico Russo.

Revoltada, a ditadura de Vladimir Putin agora quer atrapalhar a festa em Paris. Para isso, adotou duas estratégias.

A primeira, arma russa bastante conhecida na esfera geopolítica, é espalhar desinformação sobre a Olimpíada de Paris.

Um monitoramento da Microsoft, cujos resultados foram divulgados no mês passado, mostrou que Moscou está recorrendo a recursos como vídeos falsos, fake news e Inteligência Artificial (IA), que incluem até um pseudodocumentário com críticas ao Comitê Olímpico Internacional (COI), “Olympics Has Fallen” (“A Queda dos Jogos Olímpicos”), com uma “participação” deepfake do ator americano Tom Cruise.

“Embora a Rússia já tenha uma história de décadas visando [prejudicar] os Jogos Olímpicos, o Centro de Análise de Ameaças da Microsoft observou táticas antigas misturadas com Inteligência Artificial, numa atividade maligna que pode se intensificar à medida que a cerimônia de abertura de Paris 2024 se aproxima”, disse Clint Watts, gerente geral do Centro de Análise de Ameaças da Microsoft, em uma postagem no blog da empresa.

O relatório apontou que um grupo ligado ao Kremlin, Storm-1679, está espalhando na internet informações falsas, como um vídeo que aponta que 24% dos ingressos para os Jogos de Paris teriam sido devolvidos devido a receio de ataques terroristas, fake news que incluiu um selo da emissora France 24 para enganar usuários de redes sociais.

Outra desinformação consiste em imagens de supostas pichações em Paris com ameaças de violência contra cidadãos israelenses que forem à França acompanhar os Jogos. A Microsoft informou que as imagens foram criadas digitalmente.

Outras fotos e vídeos fazem referência ao atentado de terroristas palestinos contra a delegação de Israel na Olimpíada de Munique, em 1972, que resultou na morte de 11 atletas ou treinadores do país.

Rússia “resgata” Jogos Mundiais da Amizade

A segunda estratégia russa é a realização de um evento esportivo em setembro, em Moscou e Ecaterimburgo, para “competir” com os Jogos de Paris.

O evento será a segunda edição dos Jogos Mundiais da Amizade, realizados pela primeira vez em 1984 pela então União Soviética após boicotar os Jogos Olímpicos de Los Angeles.

O boicote russo às competições em solo americano havia sido uma resposta à decisão dos Estados Unidos e de outros países de não enviar atletas para a Olimpíada de Moscou, em 1980, em razão da invasão soviética ao Afeganistão.

A Rússia diz que atletas de pelo menos 70 países devem participar dos Jogos Mundiais da Amizade.

No ano passado, após o presidente do COI, Thomas Bach, pedir boicote a competições organizadas pela Rússia, como os Jogos dos Brics (realizados em junho na cidade russa de Kazan, com participação do Brasil) e os Jogos Mundiais da Amizade, o comitê organizador desta competição se disse “surpreso com a postura agressiva” do órgão internacional.

“Nosso objetivo nunca foi confrontar o COI ou organizar competições contrárias ao movimento olímpico. Os Jogos Mundiais da Amizade foram concebidos como uma adição harmoniosa ao calendário esportivo internacional. Para os atletas russos, excluídos das principais competições internacionais, representarão o evento esportivo mais importante dos últimos anos”, afirmou, num comunicado.

Os Jogos Mundiais da Amizade terão mais de 30 modalidades, a maioria tradicionais, como ginástica artística, boxe e ciclismo, mas também algumas bizarras.

Uma delas será (como esporte de exibição) o mas-wrestling, no qual dois atletas ficam sentados no chão de frente para o outro, com os pés apoiados numa tábua, e puxam um bastão de madeira. O atleta pontua se conseguir puxar o oponente por cima da tábua e manter o bastão nas mãos. Cada partida é definida em melhor de três embates.

Outra é o rock 'n' roll acrobático, que, como o nome indica, consiste numa dança coreografada com o objetivo de impressionar os jurados com a sincronia dos movimentos e acrobacias ousadas.

A programação competitiva, na qual os participantes devem resolver problemas de computação complexos em um determinado período de tempo, também será uma modalidade nos Jogos Mundiais da Amizade.

Por ser uma atividade intelectual e não física, muita gente acha estranho considerá-la um esporte, assim como o xadrez – que também estará na agenda da Olimpíada alternativa da Rússia.