A Rússia suspendeu o fornecimento de gás natural para a Ucrânia depois de não ter alcançado um novo acordo de venda do combustível ao país vizinho antes do vencimento do contrato, nesta quarta-feira (31). No entanto, o fluxo de gás da Rússia para a Europa segue normal. Uma delegação de Kiev ficou trancada na sede da OAO Gazprom - que detém o monopólio do produto na Rússia - nesta véspera de ano-novo para tentar negociar um novo contrato. Contudo, a Ucrânia negou a proposta da Rússia de aumento dos preços em 2009, o que levou a OAO Gazprom a fechar a torneira.
A empresa, por sua vez, informou que os negociadores ucranianos não estavam autorizados a assinar um novo acordo ontem. "O problema não estava em concordar com um preço. O problema é que nossos colegas ucranianos não estavam preparados para assinarem um novo contrato, pois eles não tinham um mandato para fazerem isso", disse o porta-voz da Gazprom, Sergei Kupryanov, à tevê estatal russa. A Gazprom propôs um aumento de 40% nos preços do gás natural para a Ucrânia, uma oferta que foi rejeitada por Kiev.
Kupryanov disse que a proposta da Ucrânia para pagar US$ 201 por 1 mil metros cúbicos de gás, comparado com o preço pago em 2008 de US$ 179,5, foi recebida apenas nesta quinta-feira (1º). No início desta semana, a Ucrânia começou a pagar os US$ 2 bilhões em atrasados para a Gazprom pelo gás fornecido em novembro e dezembro, e Kupryanov disse que as negociações continuarão. O porta-voz da Gazprom disse que o fornecimento de 110 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural para a Ucrânia foi completamente suspenso às 5 horas (de Brasília), mas que as exportações para a Europa, por meio do território da Ucrânia, continuarão normais. A Rússia envia, diariamente, 326 milhões de metros cúbicos de gás para a Europa.
Um impasse similar entre a Rússia e a Ucrânia em 2006 levou Kiev a interromper o fluxo de gás para a Europa, que depende da Rússia para suprir um quarto das necessidades de gás. Reforçando os temores de uma repetição daquela situação, a estatal de energia ucraniana Naftogaz enviou uma carta para a Gazprom ameaçando confiscar o gás que passa pela Ucrânia destinado à Europa a partir de hoje.
Europa
Contudo, nesta quinta-feira, a Naftogaz mudou de tom, insistindo que o fluxo para a Europa seguirá conforme o programado. "Estamos assegurando o trânsito do gás para a Europa em conformidade com as ordens da Gazprom", disse o porta-voz da Naftogaz, Valentyn Zemlyansky, para a agência de notícias Interfax. O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia também assegurou a passagem segura do gás russo para a Europa, segundo a agência de notícias. O órgão também informou que a estatal de gás da Polônia, a PGNiG, não viu qualquer redução no fluxo do gás russo.
O governo de Kiev quer que a tarifa sobre o trânsito do gás russo para a Europa seja elevada para pelo menos "US$ 2 por 1 mil metros cúbicos de gás por 100 quilômetros", comparado com a tarifa atual paga pela Rússia, de US$ 1,70, de acordo com um texto conjunto do presidente Viktor Yushchenko e da primeira-ministra Yulia Tymoshenko. Enquanto isso, a República Checa, que assumiu a presidência da União Europeia (UE), insiste que Moscou e Kiev devem honrar os compromissos de fornecimento de gás natural para a Europa. O presidente da Ucrânia escreveu para o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, numa tentativa de envolver a UE na solução da disputa de gás com a Rússia, mas Yushchenko ainda aguarda uma resposta, segundo a Interfax.
Analistas dizem que tanto a Ucrânia quanto a Europa têm gás suficiente estocados para enfrentarem uma interrupção na oferta da Rússia. O grupo francês de energia, GDF Suez, disse que não vê qualquer problema em assegurar o fornecimento de gás, caso a decisão da Rússia em suspender o fluxo para a Ucrânia tenha outras consequências. Os Estados Unidos exortaram a Rússia e a Ucrânia a retomarem as negociações para resolverem a disputa em torno do gás natural. "Os Estados Unidos estão exortando ambas as partes a retomarem as negociações", disse a embaixadora americana para a UE, Kristen Silverberg, num comunicado divulgado hoje. "Acreditamos que esta disputa pode ser resolvida sem qualquer interrupção no fornecimento de gás, o que pode ter implicações humanitárias neste inverno", acrescentou.
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