A Rússia suspendeu nesta segunda-feira (8) as inspeções de suas instalações nucleares realizadas pelos Estados Unidos no âmbito do tratado START III, que limita as armas estratégicas e expira em 2026.
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia explicou que Moscou se viu obrigada a tomar essa medida devido às “sanções unilaterais” adotadas pelo Ocidente em função da invasão à Ucrânia, que a impedem de realizar as inspeções previstas no tratado em território americano.
Moscou informou a Washington nesta segunda-feira, pelos canais diplomáticos habituais, de sua decisão de suspender “provisoriamente” as inspeções.
A nota oficial argumenta que a atitude dos EUA não leva em conta “a realidade existente”, que ignora tanto a paridade como a igualdade de direitos estipulada pelo último tratado nuclear entre as duas superpotências, situação que considera “inaceitável”.
Além disso, recorda que, devido às sanções contra a Rússia, não há comunicação aérea normal com os EUA, além do fato de o espaço aéreo de seus aliados estar fechado para aviões russos.
As mesmas restrições não se aplicam em relação aos inspetores americanos, razão pela qual o lado russo abordou sua contraparte, mas sem obter resposta, segundo especificou.
Se todos estes problemas não forem resolvidos, advertiu a Rússia, não poderá ser retomado o regime de fiscalização do START III, um passo que seria “prematuro”.
A Rússia defende a cooperação com os EUA neste âmbito, embora tenha instado a Casa Branca a não forçar a retomada das inspeções nucleares com medidas contraproducentes e a levar em conta a realidade atual, incluindo os riscos ligados à situação epidêmica devido ao recente aumento de casos de Covid-19.
Além de reforçar que a suspensão é provisória, algo que o documento permite, destaca que Moscou se mantém fiel ao tratado, que considera um “instrumento importantíssimo para a manutenção da estabilidade e segurança internacionais”.
O anúncio ocorre uma semana depois de o presidente dos EUA, Joe Biden, ter proposto a Moscou negociações imediatas para a assinatura de um novo tratado nuclear.
Na ocasião, Biden alertou que qualquer negociação “requer um parceiro disposto a operar de boa fé” e lembrou que “a agressão brutal e injustificada da Rússia na Ucrânia abalou a paz na Europa e constitui um ataque contra os princípios fundamentais da ordem internacional”.
Nesse mesmo dia, o presidente russo, Vladimir Putin, assegurou que “em uma guerra nuclear não pode haver vencedores”.
Pouco depois de chegar à Casa Branca em janeiro de 2021 e apenas dez dias antes da expiração do tratado, Biden concordou com o presidente russo em renovar o tratado também conhecido como Novo START por mais cinco anos.
Este último tratado de desarmamento entre os dois países limita o número de armas nucleares estratégicas, com um máximo de 1.550 ogivas nucleares e 700 sistemas balísticos.
Recentemente, o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que o mundo está “a apenas um mal-entendido ou erro de cálculo da aniquilação nuclear”, razão pela qual exigiu acordos entre as potências atômicas para reduzir esta grave ameaça.
“A humanidade corre o risco de esquecer as lições forjadas nas chamas aterrorizantes de Hiroshima e Nagasaki”, declarou Guterres.
Em dezembro do ano passado, o Kremlin estabeleceu condições para a coexistência pacífica com os EUA, que incluiu a assinatura de um novo tratado que exclua a implantação de armas nucleares fora de suas fronteiras e o retorno aos silos de armamentos já implantados.
Em uma proposta sem precedentes, rejeitada pelos EUA, ambas as partes se comprometeriam também com a destruição da infraestrutura já existente no exterior, além de interromper os testes nucleares e deixar de instruir especialistas civis e militares de outros países.