A missão dos bombardeiros russos na Venezuela na semana passada guardava um propósito maior: a Rússia está se preparando para estabelecer uma presença militar de longo prazo na Venezuela, segundo fontes ouvidas pelo jornal russo Nezavisimaya Gazeta, um dos mais importantes do país. A agência de notícias russa Tass replicou a informação, mas ainda não há declarações oficiais sobre o assunto.
Segundo militares ouvido pelo jornal, as autoridades russas vão implantar aeronaves estratégicas em uma das ilhas da Venezuela no Mar do Caribe, provavelmente em La Orchila, localizada a 200 quilômetros a nordeste de Caracas, lugar que já foi visitado por especialistas russos e comandantes das Forças Armadas há dez anos, segundo a Tass. As reportagens afirmam que não houve resistência do regime venezuelano quanto à decisão.
"É a ideia certa incluir a Venezuela em missões de aviação de longo alcance", disse à Nezavisimaya Gazeta o coronel Shamil Gareyev, apontando como benefício o fato de que os bombardeiros russos não terão que voltar para a Rússia “todas as vezes” e que não precisarão fazer reabastecimento aéreo enquanto “estiverem em missão de patrulha nas Américas”. De acordo com o jornal, as leis venezuelanas proíbem a instalação de bases militares no país, mas é possível a instalação temporária de aviões de guerra.
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O que está em jogo para a Rússia é a relação com os Estados Unidos, que recentemente suspenderam sua participação no Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF), firmado com a Rússia na época da guerra fria. Um segundo militar ouvido pela Nezavisimaya Gazeta, Eduard Rodyukov, afirmou que “a chegada dos bombardeiros estratégicos russos Tu-160 à América Central é uma espécie de sinal para [o presidente dos Estados Unidos, Donald] Trump para fazê-lo perceber que abandonar os tratados de desarmamento nuclear terá um efeito de bumerangue". O presidente da Rússia, Vladimir Putin, falou nesta terça-feira (18) que a saída dos EUA do acordo poderia “arruinar toda a arquitetura do controle de armas e de não-proliferação de armas de destruição em massa”.
Para a Venezuela, a presença militar russa em seu território é uma maneira de fortalecer o regime frente a supostos planos de invasão do país, orquestrados, segundo Maduro, pelos Estados Unidos em parceria com Colômbia e Brasil.
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