Sociedade é imatura para mudar hábitos
Com a regulamentação do uso das sacolas plásticas no país, a distribuição desse material sofreu uma queda significativa desde 2008. Mais de 2 bilhões de sacos deixaram de circular nos supermercados. Em Curitiba, um projeto de lei sobre o tema foi debatido na Assembleia Legislativa no fim do ano passado.
Alguns especialistas questionam se essas sacolas realmente devem sair de circulação. A professora de engenharia química da Universidade Federal do Paraná, Margarete Casagrande, acredita que a sociedade brasileira não está preparada para alterar os hábitos de consumo dos sacos plásticos. "Não somos maduros o suficiente para deixar de usar as sacolas. Essa regulamentação é um exagero por parte de nossos governantes", diz.
Para Margarete, uma solução mais prática para os sacos de supermercado seria a reciclagem ou a redução de embalagens. "É um absurdo que os produtos sejam vendidos com várias camadas de plástico. Algumas são até mais tóxicas ao meio ambiente do que os sacos convencionais."
As sacolas biodegradáveis e compostáveis, feitas de amido de milho e outros materiais, encontram barreira no preço. Um breve levantamento da reportagem em distribuidoras de embalagens revelou que a diferença de preço de cada mil unidades pode variar em mais de R$ 100 da sustentável para a convencional.
Uma alteração molecular pode ser a solução para o impasse ambiental das sacolas de supermercado. Pesquisas desenvolvidas em universidades e empresas nacionais correm para descobrir alternativas sustentáveis aos sacos plásticos que podem levar mais de um século para desaparecer do meio ambiente.
A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), por exemplo, desenvolve um projeto pago pelo estado de São Paulo que testa nanopartículas em polímeros.
A professora Rosário Bretas, coordenadora da pesquisa, explica que as alterações nesses materiais ocorrem na forma de inserções de diferentes moléculas, que podem entre outras aplicações resultar em uma sacola 100% biodegradável.
"O que fazemos são experimentos que podem melhorar as propriedades de plásticos. As nanopartículas que utilizamos podem fazer o material ser mais resistente ou torná-lo compostável", diz Rosário. Por compostável, a professora entende que as sacolas de supermercado podem ser enterradas em locais específicos e, em poucos meses, se transformar em água e carbono.
Estudos que desenvolvem fibras como o plástico, mas sustentáveis ao meio ambiente, não são exclusivos das universidades. Empresas particulares trabalham com materiais compostáveis do gênero há quase duas décadas.
"O lixo é uma das coisas que mais cresce no mundo. Metade desses resíduos é de material orgânico e não precisa parar em aterros se for destinado à compostagem", diz Júlio Harada, especialista em polímeros de performance da Basf, companhia alemã voltada para esse tipo de produção.
Pesquisas desenvolvidas em diversas partes do país mostram que os polímeros que simulam o plástico podem ser feitos de fontes fósseis (extraídos do petróleo), derivados de leite e de gordura vegetal como a encontrada no algodão e na soja.
No Paraná, estudantes da oitava série do Colégio Positivo elaboraram uma sacola, em fase de testes, feita de cola atóxica e que se dissolve na água.
Oxi
"O único problema é que esses produtos ainda são muito caros como substitutos do plástico. Precisamos ampliar a escala de produção para torná-los viáveis para o consumidor", afirma Harada.
Uma alternativa mais recorrente, barata e criticada por ambientalistas são as sacolas oxibiodegradáveis. "É um produto que apenas se esfarela. Nem pode ser considerado biodegradável de verdade, pois continua poluindo", diz a professora da UFSCar Rosário Bretas.
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