Em uma carta aberta, Saddam Hussein disse aos iraquianos que "a vitória está próxima" e exortou os insurgentes a demonstrar magnanimidade com seus oponentes, dizendo que ele próprio perdoa os iraquianos que ajudaram os assassinos de seus dois filhos.
Em carta ditada a seu advogado principal, Khalid Dulaimi, durante um encontro de quatro horas que os dois tiveram no sábado na prisão onde Saddam está detido, o ex-líder iraquiano também disse que os iraquianos devem deixar suas diferenças de lado e fixar uma única meta: expulsar as tropas americanas do Iraque.
"A vitória está próxima, mas não esqueçam que sua meta de curto prazo se limita a libertar seu país das forças de ocupação", disse Saddam na carta, uma cópia da qual chegou às mãos da Reuters no domingo.
Dulaimi disse que a carta foi escrita dias antes de o tribunal onde Saddam está sendo julgado pela morte de 148 xiitas da cidade de Dujail, nos anos 1980, fazer nova audiência, na segunda-feira, para rever os depoimentos das testemunhas.
Saddam exortou os membros de sua comunidade minoritária sunita, que forma a espinha dorsal da insurgência, a perdoar até mesmo os informantes iraquianos que ajudaram tropas dos EUA a localizar e matar seus dois filhos, Uday e Qusay, numa troca de tiros numa casa em Mosul, em 2003.
"Quando vocês estão tão perto da vitória... lembrem-se de que são soldados de Deus, o que significa que devem demonstrar perdão verdadeiro e deixar de lado a vingança pelo sangue derramado dos filhos de Saddam Hussein", escreveu.
"Conclamo a todos a aplicar a justiça na jihad (guerra santa), não se deixarem atrair pela ação insensata, e exercer o perdão, em lugar da dureza com aqueles que se perderam do caminho", acrescentou.
O ex-líder disse que recorreu a uma carta aberta pela primeira vez desde que seu julgamento teve início, em outubro de 2005, por acusações de crimes contra a humanidade, para poder transmitir sua mensagem sem que ela fosse censurada.
Mas ele avisou seus partidários de que a força excessiva contra adversários que não apóiam a insurgência apenas fará a resistência anti-EUA perder o amplo apoio popular de que goza.
"Não deve haver acertos de contas... e vocês não devem atacar simplesmente por atacar, quando a oportunidade aparece no momento em que estão portando uma arma."
Os ex-oficiais de Saddam recorreram às armas depois de o exército ter sido desmantelado, fazendo da insurgência uma força devastadora que não se rompeu diante das ofensivas militares.
Saddam utilizou linguagem emotiva para expressar sua dor diante do aumento na violência sectária entre xiitas e sunitas que assola o Iraque desde o ataque a um santuário xiita em fevereiro.
"Não consigo utilizar a terminologia usada pelos estrangeiros para semear divisões entre nós... Nunca houve uma razão real para divisões no passado", disse.
Milhares de iraquianos já foram mortos em crimes de vingança, e mais de 300 mil já abandonaram suas casas.
Ecoando os temores de muitos iraquianos sunitas de que o país possa rachar, Saddam conclamou os iraquianos a preservar a unidade nacional.
'Vocês estão sacrificando suas vidas por esses princípios grandiosos, e à frente disse está o grande Iraque unido."
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