O ex-ditador do Iraque, Saddam Hussein, foi condenado à morte neste domingo por um tribunal de Bagdá. Logo após o anúncio da sentença, foram registrados enfrentamentos no distrito sunita de Azamiyah entre civis e a polícia. Saddam, condenado por crimes contra a Humanidade, será enforcado, mas antes será julgado em outros casos. Saddam é o primeiro chefe de Estado árabe a ser julgado no próprio país por crimes contra o povo. De acordo com a Justiça iraquiana, a condenação à morte ou à prisão perpétua dá direito automático à apelação. O governo iraquiano disse que o ex-ditador recebeu a sentença merecida.
A condenação deste domingo se refere ao massacre de 148 pessoas na cidade xiita de Dujail, em 1982, após a guarda de Saddam sufocar uma tentativa para assassiná-lo.
- Viva o povo e morram os seus inimigos. Viva a nação gloriosa e morram seus inimigos. Deus é grande, Deus é grande, Deus é grande! - gritou Saddam enquanto sua sentença era lida pelo juiz.
Ao ser levado para fora do tribunal, Saddam, bastante nervoso, disse a um guarda:
- Não me empurre, garoto.
O juiz também condenou à pena capital Barzan Hassan, meio-irmão de Saddam e chefe da inteligência do antigo regime, e Awad Bandar, ex-juiz-chefe da Corte Revolucionária. Taha Yassin Ramadan, ex-vice-presidente iraquiano, foi sentenciado à prisão perpétua.
Outros três - Abdullah Kadhem Ruwaid, Ali Dayem Ali e Misher Abdullah Ruwaid, todos autoridades durante o regime de Saddam - receberam pena de 15 anos de prisão. Mohammed Azzawi Ali, membro do partido Baath de Dujail, foi absolvido devido à insuficiência de provas contra ele.Julgamento tumultuado
O julgamento começou em 19 de outubro do ano passado e foi marcado por vários incidentes. Durante o processo, Saddam questionou a legitimidade do tribunal, afirmou diversas vezes ser o presidente do Iraque e foi expulso outras tantas da corte por mau comportamento.
Antes do começo da audiência deste domingo, um dos advogados de Saddam, o ex-procurador-geral americano Ramsey Clark, foi expulso do tribunal após entregar ao juiz um memorando em que classificava o julgamento de "paródia". Grupos defensores dos direitos humanos apontaram "falhas" no processo .
Ziad al-Najdawi, outro advogado de defesa, afirmou ao deixar o tribunal:
- Essa é a justiça americana.
Em regiões iraquianas com maioria xiita e curda - segmentos da população perseguidos pelo regime de Saddam - o povo saiu às ruas para celebrar a condenação. Em Najaf, uma das cidades mais sagradas para os xiitas, a comemoração foi intensa.
Por outro lado, cerca de 2.000 seguidores desafiaram o toque de recolher e se reuniram na cidade natal de Saddam, Tikrit, para manifestar apoio ao antigo líder, derrubado em 2003 pelas forças dos EUA.