A política externa do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) será uma espécie de imagem invertida do que foi feito nos governos do PT, no entendimento de colaboradores. Na via contrária à aproximação com os países ditos "bolivarianos" e ao projeto sul-sul, que pretendia criar um núcleo de poder alternativo aos EUA, Bolsonaro já deixou clara sua admiração pelo presidente americano, Donald Trump, e por Israel. Também mostrou restrições à China. E afirmou que não pretende se relacionar com “ditaduras” como a Venezuela.
As primeiras viagens internacionais do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) já estão definidas. Elas serão para o Chile, Estados Unidos e Israel, segundo o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que será o ministro da Casa Civil de Bolsonaro. De acordo com ele, Bolsonaro foi convidado neste domingo, 28, pelo próprio presidente Donald Trump para ir ao país.
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A repercussão da vitória de Bolsonaro pelo mundo aponta para as possíveis aproximações e alianças entre Brasil e outros países nos próximos quatro anos.
Parceria “vibrante”
Já no domingo, Bolsonaro recebeu parabéns, por telefone, de quem deve ser um de seus principais aliados internacionais: o presidente americano Donald Trump.
No Twitter, Trump disse na manhã de segunda-feira que teve uma “excelente ligação” com o presidente eleito, que ganhou a disputa “por uma margem substancial” de vantagem. “Nós concordamos que Brasil e Estados Unidos vão trabalhar juntos em comércio, defesa e tudo mais! Ligação excelente, dei parabéns a ele”, afirmou Trump.
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A porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Heather Nauert, comentou nesta segunda-feira, 29, a eleição de Jair Bolsonaro como presidente do Brasil e as parcerias entre os dois países. “Valorizamos nossa profunda cooperação com o Brasil e esperamos trabalhar com o presidente eleito Bolsonaro nos próximos anos”, afirmou, em uma declaração distribuída à imprensa.
No comunicado, Nauert afirma que Brasil e Estados Unidos têm uma parceria “vibrante” fundada em um comprometimento mútuo para promover segurança, democracia, prosperidade econômica e direitos humanos. “Como duas das maiores democracias e economias do mundo, nós trabalhamos juntos para enfrentar os desafios globais e regionais do século 21”, escreveu Nauert.
As críticas ao governo de Nicolás Maduro, na Venezuela, são um ponto em comum entre Bolsonaro e Trump.
A porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, foi questionada em entrevista coletiva nesta segunda-feira sobre declarações do presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, que poderiam representar perspectivas negativas para a questão dos direitos humanos e se o presidente Donald Trump pretende cobrar do futuro colega uma postura de garantias sobre a questão no país. Brevemente, Sarah disse apenas que o governo dos EUA valoriza sua relação com o Brasil e pretende mantê-la, no próximo governo, sem se estender. “Trabalhamos para promover direitos humanos em todo o mundo”, comentou apenas.
Sarah Sanders foi ainda questionada sobre as comparações feitas por alguns entre Bolsonaro e o presidente americano. “Para mim, só há um Donald Trump”, disse apenas.
Crise na Venezuela
Outro provável aliado de Bolsonaro é o recém-eleito presidente da Colômbia, Iván Duque. Ele compartilha com o brasileiro um programa antiesquerdista – se opôs, por exemplo, ao acordo de paz firmado em 2016 com as Farc (antigas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Ambos deverão liderar a resposta regional à crise humanitária na Venezuela, não sendo descartada uma empreitada intervencionista contra o regime do ditador Nicolás Maduro.
Além disso, Duque e Bolsonaro devem desenhar juntos uma política regional para lidar com o fluxo sem precedentes de refugiados venezuelanos, considerado um dos principais desafios da diplomacia sul-americana.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, divulgou um comunicado oficial em que parabeniza o presidente eleito no Brasil, Jair Bolsonaro (PSL).
"O governo aproveita a ocasião para encorajar o novo presidente eleito do Brasil a retomar, como países vizinhos, o caminho das relações diplomáticas de respeito, harmonia, progresso e integração regional, pelo bem-estar de nossos povos", diz o comunicado.
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Fortalecimento de laços
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, informou em seu perfil no Twitter que conversou nesta segunda-feira com o presidente eleito do Brasil. O israelense parabenizou Bolsonaro por sua vitória e disse que aguarda a sua visita ao país.
“Falei esta tarde com o presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro. Eu o parabenizei por sua vitória. Disse a ele que estou certo de que sua eleição irá trazer uma grande amizade entre nossos povos e um fortalecimento dos laços entre Brasil e Israel. Estamos aguardando sua visita!”, escreveu Netanyahu.
Bolsonaro prometeu transferir a embaixada brasileira para Jerusalém e romper a aproximação com a Autoridade Palestina. O capitão reformado viajou a Israel durante a campanha, onde se batizou nas águas do rio Jordão.
Parceiros de negócios
O presidente eleito do Brasil também foi parabenizado pelo governo da China, que destacou suas intenções de avançar nas relações entre os dois países.
“Queremos trabalhar com o Brasil para atualizar nossa parceria numa base de respeito mútuo”, disse o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores chinês, Lu Kang, durante coletiva de imprensa, acrescentando que China e Brasil são grandes mercados emergentes e parceiros estratégicos de negócios.
No aguardo
O presidente da Argentina, Mauricio Macri, parabenizou o Bolsonaro e expressou desejo de trabalhar junto para o bem-estar de brasileiros e argentinos.
“Parabéns a Jair Bolsonaro pelo triunfo no Brasil! Desejo que trabalhemos em breve juntos para o relacionamento entre nossos países e o bem-estar de argentinos e brasileiros”, escreveu Macri em sua conta no Twitter.
O ministro de Produção e Trabalho da Argentina, Dante Sica, afirmou que o governo de Mauricio Macri só irá trabalhar com base em fatos e decisões tomados por ministros empossados pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).
“Precisamos esperar que os ministros designados assumam seus cargos, comecem a trabalhar, tomem medidas e façam declarações oficiais. A partir de seus feitos e atos, vamos começar a trabalhar em conjunto”, disse à reportagem após ser questionado sobre o futuro do Mercosul e das relações comerciais entre Brasil e Argentina.
Europa
Na Europa, líderes da direita nacionalista desejaram boa sorte ao presidente eleito Bolsonaro em publicações em redes sociais nesta segunda-feira. Alguns chefes de Estado e de governo do continente se calaram.
Um dos que parabenizaram o presidente eleito é o ministro do Interior da Itália e vice-premiê Matteo Salvini.
Na França, a líder da ultradireita Marine Le Pen escreveu que “os brasileiros acabaram de punir a corrupção generalizada e a criminalidade aterrorizante que prosperaram sob os governos de extrema esquerda”.
Ela disse ainda que o presidente eleito “deverá recuperar a economia, a segurança e a democracia, muito comprometidas no Brasil”.
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O presidente francês, Emmanuel Macron, felicitou Jair Bolsonaro nesta segunda-feira pela vitória na eleição do Brasil. Ele mencionou “princípios democráticos” e disse esperar manter a cooperação bilateral no âmbito da “diplomacia ambiental”.
“A França e o Brasil mantêm uma parceria estratégica em torno de valores comuns de respeito e de promoção dos princípios democráticos”, diz o comunicado divulgado pelo Palácio do Eliseu.
“É no respeito a esses valores que a França deseja levar adiante sua cooperação com o Brasil, para enfrentar os grandes desafios contemporâneos do nosso planeta, tanto no campo da paz e da segurança internacionais quanto no da diplomacia ambiental e dos compromissos com o Acordo de Paris sobre o clima”, prossegue a nota.
A conta oficial do partido de Macron (A República em Marcha) em uma rede social amanheceu com a seguinte mensagem:
“O Brasil terá agora em seu comando um presidente orgulhosamente homofóbico, cético em relação ao aquecimento global, sexista e racista. Essa tragédia eleitoral nos força a agir. Não temos escolha, não podemos errar. Senão podemos ver o que nos espera. Progressistas de todos os países, uni-vos!”.
O presidente interino da mesma legenda, Philippe Grangeon, adotou tom semelhante, dizendo que “o nacionalismo prospera onde nós falhamos. Denunciá-lo não é o suficiente. É urgente trazer respostas novas e combate-lo no campo das ideias”.
Já para o chefe do Partido Socialista francês (do ex-presidente François Hollande), “os brasileiros veem a eleição de um xenófobo, homofóbico, misógino, admirador da ditadura, inimigo da mídia e entusiasta de ‘fake news’”.
Segundo Olivier Faure, “de um continente a outro, de [Viktor] Orbán [premiê da Hungria] a Trump, de Salvini a Bolsonaro, a democracia vacila. Os nacionalistas captam e deturpam a raiva dos povos. É urgente sairmos dos caminhos conhecidos e despertar uma esperança humanista”.
Um deputado da França Insubmissa, um dos partidos mais à esquerda na cena nacional, foi além. “Depois de eliminar Lula se valendo de uma pseudo-Justiça, o neoliberalismo preferiu Hitler à Frente Popular [nome dado a coligações, geralmente de esquerda, que se opuseram à ascensão do fascismo e do nazismo na Europa nos anos 1930]”, escreveu Eric Coquerel.
Laços russo-brasileiros
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, divulgou hoje um comunicado no site oficial do governo cujo título é “parabéns a Jair Bolsonaro por vencer as eleições no Brasil”.
No texto, Putin elogia a “significativa experiência de cooperação bilateral mutuamente benéfica em várias esferas que a Rússia e o Brasil adquiriram como parte de sua colaboração estratégica”.
O líder russo também expressou “confiança na promoção de todo o complexo de laços russo-brasileiros, bem como na cooperação construtiva no âmbito da Organização das Nações Unidas, do G-20, dos BRICS e de outras organizações multilaterais, no interesse do povo russo e brasileiro”.
Cooperação
Ao comentar a eleição de Jair Bolsonaro para presidente do Brasil, dois porta-vozes da Organização das Nações Unidas (ONU) disseram esperar continuar o trabalho com o país daqui para frente. Durante coletiva de imprensa nesta segunda-feira, em Nova York, Monica Grayley, porta-voz da presidente da Assembleia Geral da ONU, Maria Fernanda Espinosa, disse que os eleitores brasileiros fizeram a escolha em eleições livres e democráticas e que o diálogo é a melhor ferramenta para processos políticos.
“Ela (Espinosa) defende a escolha soberana que os eleitores fizeram ontem em eleições livres e democráticas. Nesse caso, é decisão dos eleitores brasileiros escolherem quem eles desejam ver governar o país. Estamos falando das eleições presidenciais, mas ontem também houve o segundo turno de eleições para governadores. Ela respeita isso e acredita que o diálogo é a melhor ferramenta para processos políticos em todos os lugares”, afirmou Monica, questionada se Espinosa possui alguma preocupação com discursos extremados de Bolsonaro.
Sem mencionar o nome de Bolsonaro, a porta-voz da presidente da Assembleia Geral disse que Maria Fernanda Espinosa espera continuar a trabalhar com o Brasil. “Espinosa soube da eleição ontem. Ela parabeniza o povo brasileiro e todos os novos representantes eleitos, todos eles. Ela espera continuar a trabalhar com o Brasil. É um estado-membro muito importante, um estado-membro fundador da organização. Ela espera continuar seu trabalho de implementação da agenda 2030, mas também em uma série de prioridades de sua agenda”, afirmou a porta-voz, durante coletiva de imprensa em Nova York.
Em agosto, durante campanha à Presidência, Bolsonaro chegou a dizer que retiraria o Brasil da ONU. “Se eu for presidente eu saio da ONU, não serve pra nada esta instituição”, afirmou o então candidato. “É uma reunião de comunistas, de gente que não tem qualquer compromisso com a América do Sul, pelo menos”, completou. Dois dias depois, Bolsonaro voltou atrás e disse ter cometido um “ato falho” ao falar da ONU. “Eu jamais pensaria em sair da ONU. É sair do conselho de direitos humanos da ONU”, disse Bolsonaro.
Verdade e paz
O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, tuitou dando parabéns ao povo brasileiro pela “jornada eleitoral”. “Saudamos o presidente eleito @jairbolsonaro e aplaudimos sua mensagem de verdade e paz”, completou.
Almagro disse ainda que o presidente eleito pode “contar com o compromisso” da Secretaria-Geral da OEA para trabalhar pela democracia, direitos humanos, segurança e desenvolvimento da região.
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