Isabel Allende, filha do ex-presidente chileno Salvador Allende, fala a jornalistas no lado de fora do Instituto Médico Legal, em Santiago, no Chile| Foto: REUTERS/Victor Ruiz Caballero

O então presidente do Chile Salvador Allende suicidou-se em meio ao incêndio, às balas e ao gás lacrimogêneo que consumiam o palácio presidencial La Moneda durante o golpe militar de 1973, confirmou nesta terça-feira uma equipe internacional de médicos legistas.

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A conclusão dos peritos foi unânime. "Estamos em condições de assegurar que foi uma morte violenta de explicação médico-legal suicida e disto não temos nenhuma dúvida", disse o legista espanhol Francisco Etxeberra, ao entregar os resultados da autópsia ao juiz Mario Carroza, à senadora socialista Isabel Allende, filha do mandatário, e à advogada da família Allende, Pamela Pereira.

A análise dos restos mortais do ex-presidente, exumados em 23 de maio, colocou um ponto final a várias teorias a respeito da causa da morte de Allende, que circularam durante décadas. Enquanto os militares chilenos afirmavam que Allende havia se matado, outra versão indicava que o presidente morreu combatendo os militares amotinados. Uma terceira versão afirmava que Allende tentou se matar e, ao não conseguir, foi morto por um dos seus guarda-costas.

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A informação sobre o suicídio de Allende foi entregue à imprensa pelo diretor do Serviço Médico Legal do Chile, o doutor Patrício Bustos. Ele precisou que primeiro foi determinada a identidade do mandatário e "em segundo lugar, a causa da morte - que é conhecida por toda a opinião pública, uma ferida de projétil; em terceiro lugar, a forma da morte corresponde ao suicídio e, em quarto lugar, como foi assinalado em muitos relatórios forenses, o contexto corresponde ao golpe de Estado durante o bombardeio de La Moneda".

Os especialistas também determinaram que Allende disparou contra si próprio com um fuzil de assalto AK-47, encontrado entre as pernas do cadáver. O fuzil foi um presente que Allende recebeu de seu amigo Fidel Castro, quando o então presidente cubano visitou o Chile em 1971.

Carroza investiga, sob ordens da Suprema Corte do Chile, a morte de Allende e de outras 725 pessoas que foram executadas ou desapareceram durante a ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990). A conclusão da investigação atual confirmou a versão sustentada pelo doutor Patrício Guijón, um dos médicos que acompanharam Allende até o último minuto. Allende morreu em 11 de setembro de 1973, durante o golpe de Estado conduzido por Pinochet.

Guijón disse recentemente à Associated Press que Allende ordenou aos 30 a 40 homens leais que o acompanharam até o final, entre médicos e guarda-costas, que se rendessem. Ele então voltou ao salão presidencial de La Moneda, onde seu corpo foi encontrado logo depois.

Guijón disse que após Allende voltar ao salão, ele decidiu regressar ao local para buscar uma máscara de gás para levar de lembrança para seu filho, quando viu uma luz e entrou no salão, onde estava Allende. "Vi o presidente, sentado na cadeira presidencial, a uns cinco ou oito metros de onde eu estava. O rosto estava levantado pelo impacto do tiro. Eu corri e vi que não havia mais nada a fazer", disse.

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A conclusão da nova perícia coincide com a crença da família Allende, que não compartilhava a versão de que o mandatário havia sido morto pelos militares amotinados, defendida por Fidel e pelo escritor colombiano Gabriel García Márquez. Durante anos, a senadora Allende foi contra a exumação do corpo do seu pai e só foi convencida quando acreditou que era necessário estabelecer a verdade histórica sobre a morte do mandatário.

Esta foi a segunda autópsia à qual foi submetido o cadáver de Allende. A primeira foi realizada no Hospital Militar na madrugada de 12 de setembro de 1973, na presença de um grupo pequeno de pessoas autorizadas pelo fiscal militar, em meio ao golpe de Pinochet. De maneira quase clandestina, o cadáver do mandatário foi sepultado no balneário de Viña del Mar, onde ficou por 17 anos. As informações são da Associated Press.