O Dicastério para a Doutrina da Fé publicou na segunda-feira (18) a declaração Fiducia supplicans, que aborda o significado pastoral das bênçãos. O documento, discutido com o papa Francisco e aprovado por ele, abre a possibilidade de bênçãos para casais em situação irregular e do mesmo sexo, sem que isso signifique uma aprovação da forma como eles vivem – a bênção seria dirigida às pessoas, não à união em si.
Na introdução assinada pelo prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, cardeal Victor Fernandez, a declaração aprofunda o “significado pastoral das bênçãos” e permite que “sua compreensão clássica seja ampliada e enriquecida” por meio de uma reflexão teológica “baseada na visão pastoral do papa Francisco”.
A declaração distingue entre as bênçãos rituais e litúrgicas e as bênçãos espontâneas.
“É precisamente neste contexto que se pode compreender a possibilidade de abençoar casais em situação irregular e casais do mesmo sexo sem validar oficialmente o seu status ou alterar de alguma forma o ensinamento perene da Igreja sobre o matrimônio”, diz o texto, que reafirma o ensinamento tradicional católico sobre o casamento – “união exclusiva, estável e indissolúvel entre um homem e uma mulher, naturalmente aberta à geração de filhos” – e sobre as relações sexuais, que só são lícitas quando ocorrem dentro de um matrimônio regular.
A declaração enfatiza que “são inadmissíveis ritos e orações que possam criar confusão” entre o casamento católico e as demais uniões. “Esta convicção baseia-se na perene doutrina católica do casamento; é somente neste contexto que as relações sexuais encontram o seu significado natural, próprio e plenamente humano. A doutrina da Igreja sobre este ponto permanece firme”, destaca o documento.
O parágrafo 28 da declaração afirma que há “várias ocasiões em que as pessoas vêm espontaneamente pedir uma bênção, seja em peregrinações, em santuários, ou mesmo na rua quando encontram um sacerdote”, e tais bênçãos “são dirigidas a todos, ninguém deve ser excluído”.
“Portanto, a sensibilidade pastoral dos ministros ordenados também deve ser formada para realizar espontaneamente bênçãos que não se encontram no Ritual das Bênçãos”, indica a declaração.
O Vaticano ainda deixou claro que a bênção tem de ser espontânea, ou seja, não seguir nenhum texto prévio ou padronizado, e afirma que dioceses ou conferências episcopais não devem redigir textos específicos para essas bênçãos, para evitar a confusão entre os fiéis e a impressão de que a Igreja estaria validando as uniões homoafetivas ou novas uniões civis entre divorciados.
“É essencial compreender a preocupação do Santo Padre para que estas bênçãos não ritualizadas nunca deixem de ser simples gestos que constituem um meio eficaz para aumentar a confiança em Deus por parte das pessoas que as pedem, cuidando para que não se tornem um ato litúrgico ou semilitúrgico, semelhante a um sacramento”, alerta o texto.
“Por esta razão, não se deve prever nem promover um ritual para a bênção de casais em situação irregular”, acrescenta.