Nicolas Sarkozy, presidente da França, senta-se hoje no banco dos réus: será julgado pelos franceses numa eleição presidencial impiedosa. O homem que vendeu o sonho de transformar a França chega ao final de cinco anos de mandato tragado pela crise da Europa. Deverá passar pela primeira etapa da votação. Mas não sobreviverá ao segundo turno, no dia 6 de maio, segundo todas as sondagens. No seu lugar deverá assumir o rival que até há pouco tempo ninguém imaginava no poder: o socialista François Hollande, que nunca exerceu cargo no governo.
Sarkozy deve engrossar a lista de 14 líderes europeus já derrubados pela crise dos últimos três anos. E entrará para a História como um dos presidentes mais impopulares da Quinta República (da atual Constituição da França, em vigor desde 1958) derrotado após um único mandato.
"Sem dúvida, é o julgamento de Sarkozy", avalia Bruno Cautrès, do Instituto de Ciências Políticas, o Sciences-Po, em Paris. "É uma missão quase impossível ele ganhar estas eleições."
Além de Sarkozy e Hollande, dez outros candidatos participam do pleito. Tirando o duelo dos grandes e Marine Le Pen, da Frente Nacional (extrema-direita), a grande questão é para que lado vão os indecisos.
Mas a esta altura, uma coisa é certa: Sarkozy, na boca de todos os analistas, está derrotado. E a causa disso pode estar em suas ações ao mesmo tempo populares e inconsequentes.
"Ele tem um lado popular. Não é um homem extremamente culto. De vez em quando comete erros de francês, o que não se espera de um presidente da República", avalia o também cientista político Etienne Schweisguth.
Os franceses se chocaram ao ver a foto de um presidente recém-empossado suado, subindo correndo as escadas do Palácio do Eliseu de short e tênis, na volta de seu jogging. Ficou também marcada a imagem dele celebrando a vitória no iate de uma amigo bilionário, Vincent Bolloré, dono de um dos maiores grupos industriais da França. Ou ainda passeando com a atual mulher e cantora Carla Bruni, na Disneylândia em Paris, depois de um tumultuado divórcio que foi acompanhado na França como um verdadeiro "Big Brother".
E assim, Hollande, um político sem grande carisma nem grandes realizações, se tornou o homem da vez. Virou candidato depois que o homem que todos esperavam ser o eleito socialista, o ex-diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) Dominique Strauss Kahn, caiu em desgraça num enorme escândalo sexual.
A esquerda francesa, que perdeu as três ultimas eleições presidenciais em 1995, 2002 e 2007 volta às urnas neste domingo com sede de poder.