O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, lançou mão neste mês de sua ainda enorme aprovação popular (pesquisas recentes indicam queda na popularidade do democrata) para pressionar o Congresso a aprovar rapidamente seu projeto de reforma do sistema de saúde americano. O plano é considerado decisivo para seu futuro político.
A proposta dividiu as duas casas do Congresso, principalmente por causa dos custos envolvidos e do seu impacto sobre a frágil economia do país. Integrantes da própria bancada governista ameaçam votar contra Obama, preocupados com prejuízos políticos que temem sofrer se apoiarem o projeto.
Diante do impasse, o presidente resolveu envolver-se diretamente nas negociações com deputados e senadores. Chamou dissidentes do seu partido para conversar na Casa Branca, fez pronunciamentos diários sobre o assunto e programou vários eventos para tentar recuperar o controle sobre a discussão, incluindo visitas a hospitais, um debate com eleitores e uma entrevista coletiva na semana passada.
Obama tem insistido que seu projeto é crucial para o futuro da economia do país, por causa do estrago que os elevados custos do sistema de saúde tem feito no orçamento do governo federal. "Se não controlarmos esses custos, não seremos capazes de controlar nosso déficit", disse.
O governo quer ver a reforma aprovada ainda neste ano. Há três projetos sobre o assunto em tramitação em comissões da Câmara dos Representantes e do Senado.
Na campanha eleitoral do ano passado, Obama prometeu ampliar o acesso da população ao sistema de saúde e reduzir os custos do atendimento médico. Cerca de 47 milhões de americanos não têm plano de saúde nem recebem assistência do governo.
Muitas empresas deixaram de financiar os planos de saúde dos funcionários por causa do aumento dos seus custos nos últimos anos. O setor também é uma fonte importante de pressões sobre as contas do governo porque ele custeia o atendimento médico de crianças e idosos.
Cálculos preliminares sugerem que a receita dos democratas custará mais de US$ 1 trilhão num período de dez anos. Para evitar que ela agrave ainda mais a situação fiscal do governo, os aliados de Obama propõem aumentos de impostos e medidas para reduzir custos do sistema. "Precisamos frear esse presidente. Ele tem promovido uma farra de gastos desde que assumiu o poder", disse o senador republicano conservador Jim DeMint, logo após a divulgação do plano do governo. "As políticas não estão compatíveis com as promessas. Eles estão sobrecarregando o povo americano com trilhões de dólares em dívidas", acrescentou DeMint.
Para complicar a iniciativa de Obama, uma série de pesquisas de opinião indica queda nas taxas de aprovação ao presidente. O apoio à reforma da saúde caiu para abaixo dos 50%, numa pesquisa do Washington Post.
Um dos argumentos do presidente em defesa do seu plano é que, segundo ele, "dois terços do custo da reforma podem ser cobertos redistribuindo o dinheiro que simplesmente se desperdiça em programas de saúde federais".