Em um importante gesto diplomático, a Arábia Saudita recusou ontem um assento temporário no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), afirmando que tal órgão é incapaz de solucionar os conflitos.
O status de membro não permanente havia sido conquistado numa votação na qual venceram também Chade, Lituânia, Chile e Nigéria.
Horas após a vitória, porém, a chancelaria saudita afirmou que o Conselho de Segurança tem "duplas medidas" e não assume propriamente as suas responsabilidades em prol da paz.
"Essa situação afetou a segurança e a paz, ampliou a injustiça nos povos, usurpou seus direitos e estendeu os conflitos e guerras em diversas regiões do mundo", afirmou o reino saudita em comunicado publicado pela agência de notícias estatal.
Nos últimos anos, principalmente devido ao poder de veto da Rússia, membro permanente do Conselho de Segurança, sanções contra o regime de Bashar al-Assad, na Síria, têm sido evitadas. O órgão, dizem sauditas, também falhou em solucionar o conflito entre Israel e as autoridades palestinas.
A influência dos membros temporários no conselho é restrita, já que eles não têm poder de veto os outros membros permanentes são os EUA, o Reino Unido, a França e a China.
Quieta
A leva da qual a Arábia Saudita faria parte substitui Azerbaijão, Guatemala, Marrocos, Paquistão e Togo, em uma rotação de dois anos.
De acordo com o jornal New York Times, a recusa saudita contrasta com a "diplomacia silenciosa" do reino, visto como um dos principais aliados americanos na região. A monarquia que dá nome ao país é um contraponto sunita à influência do xiita Irã no Oriente Médio.
A nova estratégia, porém, já tinha sido testada na Assembleia Geral da ONU, quando o chanceler saudita Saud al-Faisal não fez, pela primeira vez, seu discurso anual, num raro boicote diplomático.
A guinada surpreendeu especialistas, que apontavam um esforço saudita de participar mais ativamente das decisões diplomáticas, com uma postura mais incisiva em relação ao conflito sírio. A Arábia Saudita é um forte oponente de Assad e dá apoio à insurgência.
"Permitir que o regime na Síria mate e queime as pessoas com armas químicas enquanto o mundo permanece parado, sem aplicar sanções, é uma evidência irrefutável e prova da incapacidade do Conselho de Segurança em levar a cabo suas responsabilidades", afirmou a monarquia em comunicado.