A Scotland Yard está cada vez mais perto de ser processada pela morte do eletricista brasileiro Jean Charles de Menezes na estação de metrô de Stockwel, em Londres, no dia 22 de julho do ano passado. No entanto, nenhum oficial envolvido no caso deve ser indiciado pelos promotores, informa a edição desta quarta-feira do "The Independent".
A família de Jean Charles, para quem os policiais cometeram um erro ao confundi-lo com um homem-bomba, deve certamente reagir com fúria à decisão a ser anunciada.
Também está sendo divulgada a versão de que a maioria dos 11 policiais que poderiam ser processados foi orientada por seus superiores a não dar maiores detalhes do que aconteceu aos investigadores, dificultando o processo. A decisão da promotoria deve ser anunciada na segunda-feira.
A morte de Jean Charles, que foi alvejado sete vezes na cabeça, é um dos incidentes com armas de fogo mais polêmicos da história da Scotland Yard e mais danosos para sua imagem.
Integrantes do Serviço de Promotoria da Coroa (CPS), o Ministério Público do Reino Unido, não devem fazer referência nem a homicídio acidental nem a assassinato ao se referirem aos dois policiais que atiraram no brasileiro e aos seus superiores responsáveis pela ação.
Em vez disso, devem fazer menção a uma lei de saúde e segurança, aprovada em 1974, acusando a Scotland Yard de falhar no seu dever de proteger a vida de Jean Charles. Se for considerada culpada, a punição da instituição estará, dessa forma, limitada a uma multa.
Mesmo se houvesse a intenção de acusar policiais, as reformulações nas leis de saúde e segurança, feitas no ano passado no Reino Unido, impossibilitariam que os superiores que chefiavam a operação que matou Jean Charles fossem também indiciados.
Segundo fontes do Ministério Público, as acusações formais contra membros da Scotland Yard seriam recebidas com indignação na corporação, o que não seria do desejo dos promotores, temerosos de uma crise nos serviços de segurança. Já uma condenação apenas da instituição e o pagamento de multa teria efeitos bem menos nocivos para futuras operações contra terroristas.
A tentativa de evitar punições entre os policias diverge das notícias divulgadas há um mês, quando as informações eram de que o comissário da Scotland Yard, Ian Blair, poderia ser responsabilizado pela morte do brasileiro. Mas o fato de não ser responsabilizado pelo caso não diminui as críticas e pressões sobre o comissário. Além de Ian Blair, outras duas pessoas também poderiam ser acusadas: Cressida Dick, que supervisionou a operação em 22 de julho de 2005, e John McDowall, encarregado das operações de inteligência.