Presidente da Bolívia, Evo Morales| Foto: YAMIL LAGE/AFP| Foto:

Um grupo de políticos bolivianos liderado pelo ex-presidente direitista Jorge "Tuto" Quiroga, 58, tenta impedir que Evo Morales, 59, dispute o quarto mandato nas eleições de outubro.

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Eles pedem que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos se pronuncie contra a decisão do atual presidente, que consideram irregular.

"Evo Morales está indo contra duas decisões tomadas pelo povo boliviano por meio do voto. A Constituição de 2009, que o próprio Evo convocou e foi aprovada por referendo popular, estabelece o limite de apenas uma reeleição do presidente", diz Quiroga em entrevista por telefone.

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"A outra, quando o povo disse 'não' num referendo, em 2016, a uma proposta de emenda constitucional que permitiria reeleição indefinida."

Evo, no poder desde 2006, já driblou a Carta do país uma vez, para exercer o atual terceiro mandato. Em 2014, quando finalizava seu segundo período, alegou junto ao Tribunal Constitucional que, como seu primeiro mandato antecedia a nova Carta do país, não deveria entrar na contagem.

Os juízes concordaram e Evo pôde participar da disputa, ganhando em primeiro turno, com 61% dos votos.

Saiba mais: Justiça eleitoral da Bolívia aprova candidatura de Evo Morales para 4º mandato

Para o quarto mandato, as estratégias foram se esgotando.

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Evo tentou impugnar o resultado do plebiscito de 2016, dizendo que a população havia sido enganada pela oposição, mas não obteve apoio suficiente.

Depois, vislumbrou a possibilidade de deixar o poder seis meses antes, entregando o poder a seu vice, Álvaro García Linera, e usar o argumento de que não tinha completado o mandato. Portanto, poderia concorrer de novo. A estratégia não convenceu nem seu próprio partido.

Por fim, Evo apresentou diante do Tribunal Constitucional o pedido de se candidatar baseado na Declaração Universal de Direitos Humanos, segundo a qual qualquer cidadão tem o direito a se candidatar à Presidência de seu país.

Ao negar o pedido de Evo, estariam limitando um "direito humano" do mandatário. O tribunal então liberou que ele entrasse na disputa.

Protestos

Desde então, as ruas da capital, La Paz, e do interior vêm sendo tomadas por protestos.

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"É uma coisa absurda usar esse artifício. Esse item da declaração foi criado para permitir que presos políticos concorressem, que os perseguidos em regimes opressores tivessem o direito de disputar eleições", afirma Quiroga.

"Não para que um presidente no cargo alegue que está sofrendo abuso de direitos humanos por não poder concorrer quantas vezes quiser."

O ex-presidente espera que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos se pronuncie a favor do que o grupo contra a nova candidatura de Evo argumenta, uma vez que a reeleição indefinida vai contra um movimento de diversos países da região que vêm limitando o dispositivo, como Colômbia, Equador e Paraguai. A próxima sessão da comissão para debater o tema será em maio, na Jamaica.

"Eu imagino que o governo não iria contra uma decisão do tribunal, porque isso significaria ter de deixar a OEA (Organização Estados Americanos)", afirma Quiroga.

Ditadura na Bolívia?

Ele, que concorreu à Presidência em 2014, não se candidatará neste ano porque considera que o processo eleitoral já está comprometido.

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"Por isso é importante que se decida algo nessa ocasião, ainda há tempo de derrubar a candidatura."

As inscrições oficiais para a eleição de outubro na Bolívia acontecem em julho.

Leia também: O possível quarto mandato de Evo e os limites de ficar no poder

"Se ele disputar e perder a eleição, irá admitir? Se chegaram até aqui com essas artimanhas, são capazes de cometer fraude, e teremos um novo Maduro, um novo Ortega, aqui na Bolívia", diz.

O ex-presidente boliviano também atua na causa da Venezuela.

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Ele ajudou a oposição no exterior a articular o plano que levou Juan Guaidó a aparecer no cenário.

Apesar dos reveses, como a falha da entrada da ajuda humanitária e a dificuldade em fazer com que o ditador Nicolás Maduro recue, Quiroga vê avanços.

"As pessoas também chegam a um momento em que se cansam de protestar e se resignam", admite.

"Mas nunca havíamos chegado tão longe, consolidando a ideia de um presidente alternativo para a transição, o apoio internacional da maioria dos países da América Latina e dos EUA, e que se aumente a pressão por meio de sanções internacionais."

Mesmo assim, Quiroga crê que a mudança na Venezuela ainda demorará um pouco mais.

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"São 20 anos para desconstruir todo esse aparato mafioso, vai custar, mas nunca se esteve tão perto. É uma questão de tempo."