Apesar de ter mantido um discurso de centro durante a campanha eleitoral, na tentativa de colher votos entre os destroços da aliança governista de centro-esquerda Nova Maioria (diluída em mais de uma candidatura), o presidente eleito do Chile, Sebastián Piñera, 68, apresentou um gabinete composto apenas por nomes da direita e velhos conhecidos de sua primeira gestão (2010-14). Ele assume em 11 de março.
A nomeação causou surpresa, porque se esperava que Piñera chamasse integrantes da oposição que o ajudaram a se reeleger. Para as principais pastas, porém, os nomes são os mesmos de seu primeiro quadriênio.
Na economia, volta Felipe Larraín, a quem Piñera credita os bons níveis de crescimento do PIB na época. Como ministro do Interior, retorna o controverso Andrés Chadwick, alvo de críticas por ser primo do presidente eleito e por ter ocupado cargo durante a ditadura militar (1973-90).
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As nomeações mais polêmicas, porém, são as de Isabel Plá (ministra da Mulher) e Gerardo Varela (Educação). Piñera disse na campanha que, apesar de ser contra duas reformas promovidas pela atual presidente, Michelle Bachelet -a Lei de Aborto (para os casos de estupro, má formação do feto e risco de vida da mãe) e a gratuidade universitária para parte dos estudantes com menos recursos-, não tentaria anular o que já tivesse sido aprovado.
A nomeação de Plá e Varela, que se opuseram a essas duas leis, levantou questionamentos sobre um possível recuo do mandatário em relação a essa promessa.
"No caso do aborto, o presidente não vai abolir a lei, mas sim introduzir modificações", explicou Chadwick.
Em resposta ao jornal Folha de S.Paulo logo após a eleição, Piñera havia dito que sugeriria ao Congresso incluir na lei "alternativas de apoio e acompanhamento para as mulheres grávidas em situação vulnerável, para que tenham a oportunidade de optar pela vida".
Diferentemente do ocorrido em sua primeira gestão, Piñera se apressou em afirmar que sua fortuna e seus negócios serão confiados a um fideicomisso cego, no qual ele não terá como acompanhar o que se passa com seus negócios.
Piñera é um dos homens mais ricos do país, com patrimônio declarado de US$ 2,7 bilhões.
Em seu governo anterior, foi várias vezes acusado de conflito de interesses. A mais séria das denúncias ocorreu quando o Peru e o Chile vinham disputando no Tribunal de Haia por uma diferença sobre seus limites marítimos.
Ao mesmo tempo em que isso ocorria, Piñera realizou um grande investimento na empresa de pesca Exalmar, uma das maiores do Peru. Este país saiu vencedor no julgamento, enquanto o Chile perdeu. Porém, o presidente chileno saiu beneficiado da derrota de seu próprio país.
O Chile voltará ao Tribunal de Haia em março, para responder à reivindicação da Bolívia para recuperar o acesso ao mar que tinha antes da Guerra do Pacífico, no século 19.