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No Catar, país da Península Arábica que será palco da Copa do Mundo, os cidadãos locais não têm o direito de ser cristãos. Apenas algumas vilas de estrangeiros são autorizadas, e o número caiu para menos da metade durante a pandemia: de 157 para 61 cidades, depois de uma imposição do governo.
O país não reconhece oficialmente a conversão do islã, o que causa problemas legais e perda de status social, custódia dos filhos e propriedade. Atualmente, tanto os cristãos de origem muçulmana nativos quanto os migrantes correm risco de discriminação, assédio e vigilância policial. Neste ano, o Catar subiu 11 posições na Lista Mundial da Perseguição, que engloba 50 países. Mesmo assim, cristãos do Catar estão esperançosos para que a Copa do Mundo possa trazer mais liberdade religiosa no país.
“Estamos esperando um grande movimento do Espírito Santo durante a Copa do Mundo”, diz um idoso de uma das igrejas protestantes no Catar, consultado através da associação cristã Portas Abertas e que prefere não ser identificado. Ele vive em uma das vilas do país onde os cultos são permitidos e é um dos pastores do grupo.
Outro líder da igreja cristã é o bispo Beda Robles, presidente da Aliança de Igrejas Evangélicas do Catar (ECAQ, na sigla em inglês). Hoje, é uma das organizações religiosas reconhecidas pelo governo, para as quais é "concedida a oportunidade de construir uma igreja e liberdade de culto, dentro dos parâmetros e respeito ao país de acolhimento”, conforme revela a página na Internet. A Aliança tem mais de 90 congregações filipinas, africanas, indianas e nepalesas.
Robles avalia que a Copa do Mundo “será muito boa para o Catar e uma grande oportunidade" para a nação. "Muitos de nós serviremos como voluntários no evento. Oramos pelo Catar, oramos pela Copa do Mundo, esperamos que os cristãos ao redor o mundo estejam conosco em oração também", diz o líder religioso.
Nem todos são tão otimistas. Uma cristã que prefere não ser identificada declara, através da Portas Abertas, que “o Catar tem medo de que sua cultura seja desafiada durante a Copa do Mundo”. “Existe uma tensão entre a cultura estrita do Catar e a cultura mundial", descreve a religiosa.
“Alguns na igreja de expatriados temem que possam ser considerados responsáveis se os cristãos de outras nações falarem de cristianismo abertamente, e violarem, assim, a lei do Catar”, diz outro entrevistado sem identificação que supervisiona o trabalho da Portas Abertas na Península Arábica.
Além da sede oficial da copa, que está em 18° lugar no ranking, outros seis países que disputam a taça mundial estão na Lista Mundial da Perseguição: Irã (9º), Arábia Saudita (11º), Marrocos (27º), Tunísia (35º), México (43º) e Camarões (44º).
Fora o México, os outros países têm como tipo de perseguição a opressão islâmica, em que o islamismo é a religião principal e os cristãos são perseguidos de forma sistemática por suas famílias, comunidades, governo e autoridades, sofrendo sanções do Estado, podendo inclusive ser presos e mortos.
No México, os cristãos são perseguidos por guerrilhas, grupos paramilitares e pelas tribos indígenas, que proíbem o evangelismo e que os seus membros deixem suas religiões tradicionais para seguir ao cristianismo.
Marco Cruz, secretário-geral da Portas Abertas no Brasil avalia que o campeonato mundial pode colocar o foco em questões sociais do país-sede e das nações que participam das competições.
"Não temos a ilusão de que um mega evento acabe com a perseguição no país, mas esperamos que, num futuro próximo, o Catar – bem como toda a Península Arábica, em que os cristãos são perseguidos e proibidos de revelar e praticar sua fé – se abra para diálogos e que a liberdade religiosa seja respeitada nesses países”, afirma Cruz.