A operação de resgate dos meninos e seu treinador de futebol, presos em uma caverna inundada na Tailândia, foi retomada por volta das 11h locais (1h no Brasil) desta segunda-feira (9), após uma pausa de mais de 15 horas. Pelo menos quatro deles foram resgatado neste segundo dia de operação, somando-se aos outros quatro que foram retirados no domingo. A informação foi confirmada pela Marinha tailandesa em sua página oficial do Facebook.
Quatro meninos e o treinador permanecem na caverna.
Os meninos resgatados nesta segunda foram levados de helicóptero ao hospital militar em Chian Rai, onde se reunirão com os demais.
Em coletiva de imprensa no fim desta segunda-feira, o comandante da operação, Narongsak Osotthanakorn, afirmou que eles estão em “boas condições”, mas não deu detalhes sobre a saúde dos que foram resgatados na segunda etapa da operação.
Aparentemente, a equipe está priorizando a retirada dos meninos que estão com a saúde mais precária.
Osotthanakorn disse também que a operação será interrompida por cerca 20 horas, até que a equipe descanse e se prepare para a próxima etapa do salvamento. O período de pausa, porém, é só uma estimativa, que pode mudar de acordo com as condições climáticas e o nível de água na caverna.
A retomada da missão de salvamento ocorreu depois de uma manhã de preparação, em que mergulhadores trabalharam para reabastecer os tanques de oxigênio que foram usados no dia anterior. Os mesmos mergulhadores que realizaram os resgates no domingo estão envolvidos na segunda etapa da operação - com algumas poucas trocas na equipe, que conta com 90 mergulhadores experientes.
Pela manhã, o comandante da operação havia amenizado as preocupações de que as chuvas recentes poderiam ter elevado o nível de água dentro da caverna, afirmando que as condições continuam “boas como ontem”. De fato, os resgates neste segundo dia foram realizados de 4 a 5 horas antes do previsto, devido a condições favoráveis.
Segundo Johannes Sander, meteorologista ouvido pelo The Guardian, chuvas fortes de monções são esperadas na quarta-feira a cerca de 30 ou 50 quilômetros da região da caverna de Tham Luang, enquanto que no local de resgate deve chover pouco.
No domingo, quatro meninos foram resgatados e agora estão em uma ala isolada em um hospital próximo, segundo informou Osotthanakorn. Eles ficarão em isolamento pelos próximos dois dias e, por enquanto, não se reunirão com suas famílias. Os seus nomes não foram revelados, em respeito às famílias daqueles que ainda estão presos na caverna.
Segundo a BBC, autoridades tailandesas afirmam que eles estão em “boa saúde”. Os meninos disseram que estavam famintos e que querem comer o tradicional prato tailandês de arroz frito.
Ao chegarem ao hospital, a principal preocupação da equipe médica será com sua respiração. De acordo com médica ouvida pela CNN, Dr. Darria Long Gillespie, da Universidade do Tennessee, os meninos provavelmente passarão por exames para a checagem do nível de oxigênio, desidratação, desnutrição e estresse pós-traumático.
Como está sendo o resgate
A equipe de mergulhadores está guiando os meninos por caminhos escuros e passagens inundadas até a entrada do complexo de cavernas Tham Luang. Quando foram encontrados, há uma semana, eles estavam ilhados em uma das câmaras secas da caverna. Desde então, a equipe de resgate tem trabalhado para drenar a água de lá.
Para serem libertados, os meninos e os socorristas que os acompanharão precisam caminhar, passar por trechos alagados, escalar e mergulhar.
De acordo com um gráfico divulgado pelo governo tailandês, o plano é que dois mergulhadores acompanhem cada pessoa resgatada, que será equipada com uma máscara facial conectada a um tanque de ar comprimido, o qual será levado por um dos mergulhadores. O mergulhador Ivan Karadzic, que está ajudando no resgate, disse à CNN que os meninos também usam várias roupas de mergulho durante o trajeto para “minimizar a perda de calor”, devido às baixas temperaturas no local.
Em partes especialmente estreitas da caverna, os tanques serão soltos de suas costas e eles passarão um por um. Uma corda também foi colocada na extensão da caverna para que os mergulhadores possam encontrar a saída, já que a água é turva e lamacenta.
Peter Dennis, do Conselho Britânico de Resgate em Cavernas, disse à BBC que os meninos estão basicamente sendo puxados pelos mergulhadores, que estão fazendo a maior parte do esforço nas partes alagadas da caverna.
"Houve muitos comentários sobre eles precisarem aprender a mergulhar antes que pudessem sair. Bem, esse não é o caso. Eles estão essencialmente sendo puxados”, afirma Dennis.
"Eles estão usando uma máscara de oxigênio que cobre todo o rosto para que possam respirar normalmente. (...) Isso foi primordial para que conseguissem sair com sucesso ontem[domingo]".
Riscos da operação
Especialistas alertaram que os esforços de retirada dos meninos trarão riscos significativos, ressaltados pela morte de um ex-militar da Marinha Tailandesa na sexta-feira, quando ele ficou sem oxigênio durante um mergulho. Saman Kunan estava colocando tanques de ar comprimido ao longo da rota de saída quando caiu inconsciente e morreu pouco depois.
Saiba mais: Mergulhador morre em preparativos de resgate em caverna na Tailândia
Outro risco é ficar preso em um obstáculo que eles não podem ver porque o campo de visão dos mergulhadores será limitado por causa da água marrom e lamacenta.
"Claramente há um risco enorme de alguém entrar em pânico se não estiver acostumado com o ambiente de mergulho. Acontece com adultos em águas abertas, imagine com crianças em uma caverna escura", disse Haigh. Nenhum dos meninos sabe nadar, mas eles receberam aulas de mergulho desde que foram encontrados. "Não tenho dúvidas de que alguns serão mais apreensivos do que outros".
Como eles foram parar lá?
Em 23 de junho, os jovens jogadores de futebol, com idades entre 11 e 16 anos, e seu treinador, de 25 anos, ficaram presos quando fortes chuvas inundaram a caverna enquanto eles a exploravam. O grupo foi encontrado em uma pequena câmara na caverna de Tham Lang na segunda-feira (2), depois de nove dias, inciando um esforço de resgate internacional que está envolvendo mais de mil pessoas.
Leia mais: Cinco resgates históricos que tiveram finais felizes
Expectativa do lado de fora
Moradores de Mae Sai, distrito onde os meninos e o seu treinador de futebol vivem, e de toda a Tailândia estão acompanhando as notícias pela televisão, observando cada reviravolta deste dramático resgate que chega ao 17º dia. Nuttachoong Pimtong, amigo de um dos garotos, disse que estava assistindo a um canal de televisão tailandesa na segunda-feira com sua família quando viu as primeiras imagens dos meninos sendo retirados da caverna em ambulâncias.
“Todos nós aplaudimos”, disse ele.
Na escola Mae Sai Prasitsart, onde seis dos 12 meninos estudam, o diretor Kanetpong Suwan disse que professores e alunos foram instruídos a tratar os meninos normalmente e positivamente, para não perguntar sobre detalhes que os lembrariam dos dias que ficaram na caverna e para receber todos de braços abertos.
“Não é culpa de ninguém”, disse ele. “Devemos tratá-los como vítimas de desastres, e não como se tivessem feito algo errado”.
Ainda assim, seus amigos e colegas de classe estão cheios de perguntas, incluindo uma muito urgente: “por que você foi lá?”.
“Eu realmente quero saber por que ele entrou?” disse um dos colegas dos meninos presos na caverna. “Eu achei muito perigoso. Eu disse a eles isso”.
O mundo também está assistindo e torcendo para que a história do time juvenil de futebol de Mae Sin, os “javalis” como são conhecidos, tenha um final feliz. Na Índia, crianças de uma escola prestaram homenagens e orações a todos que estão envolvidos na operação.
Convite da FIFA
O presidente da FIFA, Gianni Infantino, reforçou o convite que havia feito na sexta-feira (6) para que os meninos assistam à final da Copa do Mundo da Rússia no estádio. Segundo a BBC, em uma carta enviada à Associação de Futebol Tailandesa, Infantino ofereceu sua “mais profunda solidariedade e apoio” à jovem equipe, acrescentando que, se os meninos estiverem em boas condições para viajar, seria ótimo que pudessem ir à Rússia.