O candidato governista Álvaro Delgado e o oposicionista Yamandú Orsi, que disputam neste domingo (24) o segundo turno da eleição presidencial no Uruguai| Foto: EFE/STR
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Neste domingo (24), a população do Uruguai vai às urnas para o segundo turno da eleição presidencial, para escolher entre Yamandú Orsi, da coalizão esquerdista Frente Ampla, e Álvaro Delgado, do conservador Partido Nacional. As pesquisas indicam que o vencedor deve ser definido por uma diferença pequena de votos.

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Delgado é apoiado pelo atual presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, que não poderá tentar a reeleição porque esta é vetada pela legislação uruguaia.

A Frente Ampla, de Orsi, governou o Uruguai entre 2005 e 2020, com dois mandatos de Tabaré Vázquez e um de José Mujica no meio.

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No primeiro turno, a disputa foi acompanhada por discussões sobre uma proposta de emenda constitucional, que previa o fim da previdência privada no Uruguai, fixar a idade mínima para aposentadoria em 60 anos e equiparar as pensões e aposentadorias mínimas ao salário mínimo nacional.

Com a rejeição dessa proposta nas urnas, agora os uruguaios se concentram em outros temas sobre o futuro do país. Confira abaixo alguns assuntos importantes a serem definidos nesta eleição:

Relação com países vizinhos

A fraude eleitoral de julho na Venezuela, que manteve Nicolás Maduro no poder, gerou questionamentos sobre como será a relação do novo governo com a ditadura venezuelana.

Delgado prometeu manter a posição de Lacalle Pou de rejeitar a fraude chavista e afirmou que vai convidar o oposicionista Edmundo González, reconhecido como vencedor do pleito por Estados Unidos e Argentina, para sua posse caso seja eleito.

Já Orsi disse durante a campanha que “a Venezuela é uma ditadura” e também questionou a lisura da eleição de julho, mas partidos dentro da Frente Ampla discordaram dele.

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O Movimento de Libertação Nacional, partido que surgiu do grupo guerrilheiro Tupamaros, chamou a fraude venezuelana de “ato eleitoral exemplar”, enquanto o líder do Partido Comunista, Rony Corbo, disse em entrevista à Rádio Carve que a “vitória” de Maduro foi “legítima”.

“[A Venezuela] tem um sistema eleitoral estupendo, oxalá que tivéssemos o mesmo no Uruguai, porque dá muitas garantias”, afirmou.

Já as relações do Uruguai com as duas maiores economias sul-americanas, Brasil e Argentina, também terão sua tendência definida neste domingo, já que os dois países hoje são presididos por líderes de orientações ideológicas opostas, Luiz Inácio Lula da Silva e Javier Milei.

“Orsi não é igual a Delgado. Se Orsi vencer as eleições, terá um alinhamento automático com Lula e um distanciamento automático de Milei, e isso poderá repercutir nas relações com os Estados Unidos, apesar do fato de que, com certo pragmatismo, Gabriel Oddone [futuro ministro da Economia se a Frente Ampla vencer] disse [que haverá] mais [proximidade com os] Estados Unidos e menos [com a] China”, disse o consultor especializado em comércio internacional, integração e negócios internacionais Ignacio Bartesaghi ao jornal uruguaio El País.

Acordo comercial com a China

Apesar de ser conservador, Lacalle Pou iniciou durante seu mandato negociações para um Tratado de Livre Comércio (TLC) com a China. O atual presidente disse que preferia que o Mercosul inteiro estivesse no acordo, mas que buscará concretizá-lo mesmo sem o apoio do bloco.

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Mesmo sendo de esquerda, a Frente Ampla encara com ceticismo o TLC com a China e sugeriu que pode interromper as negociações.

“Sempre acreditei que era tolice perder tempo pensando num TLC com a China. Nunca houve a possibilidade de ter um TLC com a China e perdemos muito tempo pensando que isso era possível”, afirmou este mês Gabriel Oddone, o cotado para chefiar a pasta da Economia num eventual governo Orsi.

Delgado, porém, negou que tenha sido tempo perdido e garantiu que o acordo vai sair. “Sim, queremos fazer um TLC com a China e já iniciamos um cronograma e um estudo de viabilidade. Estamos numa fase preliminar de assinatura do TLC com a China”, disse o candidato governista, em entrevista ao jornal Crónicas.

Segurança pública

Ainda que a situação da segurança pública no Uruguai seja bem menos grave do que a de vizinhos como Equador, Colômbia, Venezuela e Brasil, alguns indicadores geram preocupação.

Durante seu mandato, Lacalle Pou conseguiu manter a taxa de homicídios por 100 mil habitantes abaixo de dez (acima desse nível, a violência numa região é considerada epidêmica pela Organização Mundial da Saúde) em dois anos, 2020 e 2021, mas em 2023 o indicador chegou a 10,7, um pouco abaixo dos dois últimos anos da gestão da Frente Ampla, mas acima do índice uruguaio de dez anos atrás (7,8). Os dados são do Ministério do Interior.

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A taxa de roubos violentos de 2023 no país (628,4 a cada 100 mil habitantes) também melhorou em relação a 2018 e 2019, quando a esquerda ainda governava o Uruguai, mas também superou 2014 (582,6).

Onze anos após legalizar a maconha, o pequeno país agora se depara com a presença cada vez maior do crime organizado, e Orsi e Delgado prometeram medidas específicas contra esses grupos caso sejam eleitos.

“O porto de Montevidéu, localizado no final da hidrovia Paraná-Paraguai, tornou-se um importante ponto de trânsito de cocaína. Os grupos criminosos já não transportam apenas cocaína através de contêineres. Também armazenam drogas em território uruguaio, aumentando as preocupações sobre o papel do país no tráfico transnacional de drogas”, apontou um relatório de outubro da InSight Crime, organização sem fins lucrativos que produz jornalismo investigativo sobre o crime organizado na América Latina e no Caribe.