Raynéia Gabrielle Lima, estudante de medicina assassinada na Nicarágua em 23 de julho de 2018| Foto: Reprodução / Facebook

Um juiz da Nicarágua condenou a 15 anos de prisão o homem que confessou o assassinato da brasileira Raynéia Gabrielle Lima, segundo o jornal nicaraguense El Nuevo Diário.

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A estudante de medicina de 31 anos foi atingida por um tiro de grosso calibre na noite do dia 23 de julho em Manágua, quando voltava de um plantão do hospital para casa, de carro. 

O vigilante particular e ex-militar Pierson Adán Gutiérrez Solís admitiu ter sido o autor dos disparos que mataram Raynéia, abrindo mão de um júri popular. 

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No julgamento, ele alegou que fazia a segurança da rua ao lado de dois colegas quando o carro de Raynéia se aproximou em alta velocidade, de "maneira errática" e em uma "atitude suspeita". Seus dois colegas se refugiaram na guarita de segurança e um deles chegou a disparar para o alto como um alerta. Solís diz que ficou atrás de um poste de luz, a cerca de seis metros da guarita, e fez vários disparos contra o veículo. 

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Dois meses antes, havia começado um período conturbado na Nicarágua, com uma onda de protestos contra o ditador Daniel Ortega e uma forte repressão a opositores que deixou centenas de mortos e milhares de feridos. 

Solís atingiu o radiador do carro, bem como o para-choque dianteiro, o pneu traseiro direito e para-choque traseiro, no lado direito. Este último disparo atravessou a lataria do carro e acertou o assento dianteiro esquerdo, onde estava Raynéia, atingida no abdômen. 

Segundo a sentença, informa o El Nuevo Diário, ele usava um fuzil sem número de série visível. Solís foi sentenciado a 14 anos de prisão pelo homicídio e um ano por porte ilegal de armas. 

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A brasileira continuou dirigindo por mais 104 metros, ainda segundo a sentença descrita pelo jornal, parando do lado direito da rua. Ela saiu do carro e sentou na rua, sangrando gravemente de uma hemorragia interna torácico-abdominal. 

As investigações apontam que a estudante de medicina passou diversas vezes pela região, onde fica a casa de seu noivo, Harnet Nathan Lara Moraga, que a seguia em seu carro logo atrás. Foi Moraga quem socorreu Raynéia e a levou para o hospital militar, onde não resistiu aos ferimentos e morreu. 

O juiz Abelardo Alvir Ramos determinou ainda o pagamento de multa de 6.239,66 córdobas (R$ 749). 

Versão oficial do caso contradiz testemunhos

A confissão de Solís é questionada por nicaraguenses. 

Segundo Ernesto Medina, reitor da universidade onde a brasileira estudava, Moraga disse que viu três homens encapuzados na rua e que o tiro partiu de um deles. "Todos sabem que aquela área estava cheia de paramilitares que protegem altos funcionários do governo que moram ali. São eles que andam encapuzados." 

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Organizações internacionais como a OEA (Organização dos Estados Americanos) denunciam a ação violenta desses grupos armados no país. Segundo relatos de nicaraguenses, são ex-integrantes do Exército ou militantes do partido do presidente que reprimem ilegalmente manifestantes e outros opositores. 

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Medina afirma que, na manhã seguinte à morte, o carro e os documentos da brasileira tinham sido retirados do local pela polícia. Câmeras de segurança também foram arrancadas, segundo o reitor. 

Depois que prestou depoimento, o namorado de Raynéia e a família tiveram que sair do país por sofrerem ameaças. A mãe da estudante diz que passou um mês e meio sem ter notícias dele. 

"Depois ele entrou em contato e disse que teve que sair às pressas da Nicarágua, que foi ameaçado caso contasse a verdade. Disse que ainda está muito abalado, passando por tratamento psicológico, e que quando se sentir seguro virá ao Brasil me contar a verdade", diz a mãe da estudante, a brasileira Maria José da Costa.

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