Primeira-dama supera o marido
Buenos Aires Com 96,3% dos votos contabilizados, Cristina Kirchner vencia na noite de ontem com uma diferença de quase 22 pontos sobre a segunda colocada, Elisa Carrió (Cristina, 44,9%, Elisa 23%). É mais do que Kirchner conseguiu ao ser eleito, mas quando comparados com outros presidentes desde o retorno da democracia, o desempenho não é assim tão espetacular. Em 1983, Raúl Alfonsín teve 52% dos votos; em 1989, Carlos Menem conseguiu 47%, e foi reeleito em 1995 com 49%. Em 1999, Fernando De la Rua obteve 48%.
O grande eleitorado de Cristina foram as regiões mais pobres e cidades menores, onde o peronismo vem crescendo desde 1946, quando Juan Domingo Perón foi eleito presidente pela primeira vez. Na capital Buenos Aires, historicamente anti-peronista, ela fez 23,64% dos votos, treze a menos que Elisa Carrió, que ganhou 37,5% da preferência dos eleitoresl. Não seria uma grande surpresa, mas aparentemente o governo não gostou dos números. O chefe de gabinete, Alberto Fernández, criticou os eleitores portenhos ontem pela manhã. "Eu vou continuar pedindo para a cidade (Buenos Aires) que seja parte de um país, e deixe de votar e pensar como uma ilha", afirmou Fernández.
Do total de votantes, sete em cada dez votou numa mulher ou em Cristina ou Elisa. Sete em cada dez votos foi para um candidato peronista.
Buenos Aires Cristina Fernandez de Kirchner começará a governar a Argentina no próximo dia 10 de dezembro. No domingo, ela fez história aqui ao se tornar a primeira mulher eleita no país. A reportagem da Gazeta do Povo ouviu especialistas para saber o que se pode esperar do novo "pero no mucho" governo.
Uma idéia mais clara de como Cristina irá presidir só será possível daqui a cerca de um mês, quando ela nomear todo seu gabinete. Por enquanto, a expectativa é de que os próximos quatro anos sejam uma continuação dos últimos quatro. No entanto, manter o crescimento da era Néstor, de cerca de 8% ao ano, porém, será bastante improvável.
O grande número de programas sociais e de transferência de renda do atual governo só foi possível graças a uma manipulação de dados que fez sobrar dinheiro no caixa da Casa Rosada. O Indec (o IBGE argentino) alterou o índice de preço ao consumidor para manter a taxa de inflação oficial baixa. Economistas independentes garantem que o número chega a 20% em algumas regiões do país, mas oficialmente o aumento geral dos preços é de 8%. É baseado nesse índice que o governo corrige os vencimentos da dívida pública.
Crescimento
Até agora a tática foi benéfica para o governo, mas ela é insustentável, garantem economistas. "Considero que o desafio fundamental é aprofundar o caminho do crescimento econômico atraindo novos investimentos. Para isso é preciso reforçar o plano antiinflacionário, utilizando diferentes recursos da política macroeconômica, fundamentalmente fiscal e moderando a política distributiva", diz o economista Fabio Rodriguez, diretor-executivo da Fundação Capital, em Buenos Aires.
De acordo com Dante Sica, diretor da consultoria econômica Abeceb.com, Cristina manterá a política de "acordo" de preços do marido. Néstor usou o controle de preços do setor de comidas e energia como uma forma de aquecer a economia. "O governo não vai abondonar essa política. Algum tipo de consenso com os setores empresariais e sociais terá que ser feito para negociar o valor de salário, por exemplo", diz Sica.
País dividido
Politicamente, Cristina pega um país dividido. Sua eleição foi fácil, mas há uma classe média e alta das grandes cidades que não lhe concedeu o voto. O sucesso da primeira-dama vem dos votos daqueles que querem manter os benefícios recebidos nos últimos quatro anos os mais pobres.
Para conseguir unificar o país terá que combater problemas conhecidos dos brasileiros. Por exemplo, como diz Julio Blanck, editor-chefe do jornal Clarín, um dos mais importantes da Argentina: "Dar solidez às condições de crescimento e investimento, acabar com a manipulação dos índices de inflação, corrigir os abusos dos gastos públicos, lutar a cada dia e a cada hora contra a insegurança, aumentar os esforços para remover os núcleos de pobreza e marginalidade."
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