Um mês após vencer as eleições parlamentares, mas sem alcançar a maioria absoluta, o primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, anunciou ontem que não tentará mais formar um novo governo. O cenário abre a porta para o retorno da esquerda ao poder, liderada por Pedro Sánchez em uma coalizão entre o Partido Socialista (PSOE) e o radical Podemos.
A decisão foi tomada em razão do isolamento político do líder do Partido Popular (PP, direita), que não conseguiu apoio das outras três grandes formações para compor nem mesmo um gabinete de minoria.
A situação de Rajoy era insustentável desde a noite de 20 de dezembro, quando seu partido, o PP, no poder havia quatro anos, chegou em primeiro lugar nas eleições legislativas, mas obteve apenas 28,7% dos votos. Em segundo lugar acabou Sánchez, com 22%, seguido de Pablo Iglesias, do Podemos, com 20,6%, e de Albert Rivera, do Ciudadanos (centro-direita), com 13,9%. A eleição marcou o fim do bipartidarismo na Espanha, que desde 1982 vivia a hegemonia de PP e PSOE.
Rejeição
A fragmentação do Parlamento fez com que Rajoy elegesse apenas 123 deputados, longe do mínimo de 176 necessários para formação de um governo de maioria. Desde o início, outros líderes informaram que não aceitariam um governo de coalizão com o conservador, marcado pelo Caso Bárcenas, um escândalo de corrupção no interior do PP, e também pela política de austeridade fiscal na Espanha, que tem um nível de desemprego acima de 20% da população ativa.
Ontem, Rajoy se reuniu por 1 hora e 45 minutos com o rei da Espanha, Felipe VI, para discutir o impasse político no país. No encontro, o monarca teria convidado o conservador a apresentar sua candidatura a líder de um novo governo ao Parlamento, mesmo com minoria. Mas Rajoy reconheceu não ter o apoio do legislativo nem mesmo para um gabinete minoritário - cujo líder precisa de uma espécie de “voto de confiança” dos deputados.
Usando de um jogo de palavras contraditório, Rajoy disse que “não renuncia” e mantém sua candidatura a chefe do governo, mas não se submeterá ao voto do Parlamento. Na prática, ele cede a vez a Sánchez, na esperança de que o socialista também fracasse. “Não renuncio a nada, mantenho minha candidatura, só não tenho os apoios por enquanto”, disse. “Não tenho os apoios para submeter-me ao voto. Não estou em condições de ter uma maioria na Câmara. Não no dia de hoje.”
A decisão de Rajoy de não se submeter à votação no Parlamento é inédita desde 1978, quando a atual Constituição passou a vigorar. O conservador torna-se também o primeiro chefe de governo a não se reeleger desde 1982.
Contribuiu para a decisão a reunião na manhã de ontem entre Pablo Iglesias e o rei. Ao término do encontro, o líder do Podemos informou que estaria pronto a negociar a formação de um governo de coalizão com Sánchez e o PSOE, do qual ele poderá ser vice-primeiro-ministro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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