O regime da Venezuela prendeu nesta terça-feira (7) o deputado opositor Juan Requesens, minutos antes de ele ser acusado pelo ditador Nicolás Maduro de participar do suposto atentado contra ele ocorrido no último sábado (4).
Segundo o partido Primeiro Justiça (centro-direita), ao qual o parlamentar era afiliado, ele foi capturado por 14 agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin, a polícia política do chavismo) em casa, na zona leste de Caracas.
Requesens foi um dos principais líderes opositores nos protestos contra Maduro entre abril e julho de 2017. Além dele, sua irmã, Rafaela, dirigente estudantil que também convocou manifestações, foi levada pelos agentes.
Rafaela foi liberada poucas horas depois. No Twitter, ela escreveu que responsabiliza “o regime de Nicolás Maduro pelo que possa acontecer com meu irmão e a toda minha família”.
Hago responsable al Régimen de Nicolás Maduro por lo que pueda suceder a mi hermano y a toda mi familia.
â Rafaela Requesens (@RRequesens) 8 de agosto de 2018
A notícia da prisão foi revelada ao mesmo tempo em que Maduro apresentava mais detalhes das investigações das explosões, incluindo depoimentos de suspeitos de participação na ação, mas que não incriminavam políticos.
Sem apresentar provas, o mandatário relacionou o suposto atentado a Requesens e ao ex-presidente da Assembleia Nacional Julio Borges, fora da Venezuela desde fevereiro.
“Todas as declarações (de seis detidos como autores materiais) apontam para Julio Borges, que vive em uma mansão em Bogotá protegida pelo governo da Colômbia”, acusou.
Pelo Twitter, Borges se defendeu, dirigindo-se ao mandatário: “Acusou-me pela guerra econômica, pela crise de caixa, pela hiperinflação, pela escassez generalizada, pelo tráfico de mulheres brancas e agora pela farsa do ataque? Você não engana ninguém. Você é o único culpado pela tragédia do país”.
O ditador também chamou Requesens de psicopata e de um dos líderes mais loucos da oposição. No entanto, não fez comentários sobre a prisão. Também não se sabe para onde o deputado foi levado.
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Segundo a AFP, os nomes dos dois legisladores foram mencionados por um oficial militar aposentado, Juan Carlos Monasterios, que é um dos capturados como executores do suposto atentado, em um vídeo que o presidente publicou com o depoimento deste sargento perante a Procuradoria.
O vídeo mostra Monasterios, com a cara abatida, assegurando que Requesens, "através de Julio Borges", conseguiu sua passagem entre a Venezuela e a Colômbia para o treinamento dos responsáveis no país vizinho.
O ditador também continua insistindo em sua versão de que Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia que deixou o cargo nesta terça-feira (7), teve participação no suposto ataque.
Diosado Cabello também ataca
O presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Diosdado Cabello, informou que vai realizar uma sessão nesta quarta-feira para votar a retirada da imunidade parlamentar dos deputados acusados pelo suposto atentado contra Maduro. O procedimento é o primeiro passo para que eles possam ser julgados.
“A Justiça vem e vem com tudo”, afirmou em uma postagem no Twitter.
O Legislativo continua realizando sessões, mas suas decisões são declaradas nulas pela lei, já que, na prática, foi substituído pela Assembleia Constituinte.
Mañana a las 11 am, sesión en la soberanÃsima Asamblea Nacional Constituyente, punto único allanamiento de la inmunidad parlamentaria a diputados implicados en el magnicidio en grado de frustración contra el hermano Presidente Maduro. Viene la justicia y viene con todo.
— Diosdado Cabello R (@dcabellor) 8 de agosto de 2018
Extradição
Nicolás Maduro ordenou que sejam solicitadas as extradições daqueles que identifica como “cabeças” do suposto atentado, que estariam nos Estados Unidos e na Colômbia.
O ditador disse que os 12 suspeitos de participação foram treinados numa fazenda em Chinácota, no departamento colombiano de Norte de Santander, a 46 km da fronteira venezuelana e que os principais financiadores do ataque com drones, que diz ter sido vítima, moram na Flórida.
Brasil se posiciona
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Aloysio Nunes, disse à Folhapress que teme o "recrudescimento da repressão a opositores na Venezuela" após o suposto atentado contra o ditador Nicolás Maduro, no último sábado (4).
"Nós sabemos que a oposição venezuelana é pacífica e não estaria por trás de algo assim", afirmou.
Aloysio, que se reuniu com a nova vice-presidente da Colômbia, Marta Lucía Ramírez, disse que há uma preocupação conjunta dos dois países com relação a um possível aumento da repressão aos opositores, em especial contra a ex-deputada María Corina Machado, que vem sofrendo uma maior perseguição nos últimos tempos.
O chanceler brasileiro também achou "descabido" que, apenas horas depois do ataque "e sem investigação nenhuma, a Venezuela já apontasse a Colômbia como culpada". Isso, segundo o ministro, leva a uma preocupação com relação a um possível aumento de hostilidades entre os dois países.