Entre as medidas que serão impostas, segundo as autoridades, para profissionalizar as forças armadas, estão a exigência de corte de cabelo e a barba raspada, além de uniformes adequados.| Foto: Reprodução Youtube
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Depois de uma dança das cadeiras no exército da Rússia, o general Valéri Guérassimov foi nomeado, em 11 de janeiro, chefe do Estado-Maior. Junto com a nova liderança, o ministro da defesa do país, Sergei Shoigu, traçou reformas militares em grande escala, que mudarão a vida dos soldados que compõem o front na Ucrânia.

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Entre as medidas que serão impostas, segundo as autoridades, para profissionalizar as forças armadas, estão a exigência de corte de cabelo e a barba raspada, além de uniformes adequados. Os combatentes também não poderão mais portar aparelhos celulares.

O think tank americano Instituto de Estudos de Guerra (IS, na sigla em inglês) avalia que as mudanças refletem a necessidade de organizar rapidamente os soldados russos, grande parte deles reservistas convocados pelo presidente Vladimir Putin em setembro do ano passado.

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O ISW aponta que a questão da higiene nas linhas de frente tem sido frequentemente um ponto de atrito entre oficiais e combatentes. Em entrevista ao site de notícias russo RBC, retransmitida pela Reuters, o deputado e ex-oficial de alto escalão Viktor Sobolev considerou que a proibição da barba era um “aspecto elementar da disciplina militar”.  “Um soldado é visto por civis, ele deve ter uma aparência exemplar. Se ele anda despenteado e com a barba por fazer, isso não o honra como pessoa ou como soldado”, disse.

“Essa medida pode parecer trivial, mas o respeito ou desrespeito a esses padrões é um marcador do profissionalismo das tropas convencionais”, observa o ISW.  “Em unidades de baixo desempenho e desmoralizadas, a falha em atender a esses padrões pode alimentar a desmoralização e o baixo desempenho”, destaca o instituto.

Proibição de aparelhos eletrônicos  

A proibição do uso de equipamentos eletrônicos para uso pessoal no exército já existe, mas raramente é respeitada. Com o recente decreto, o Ministério da Defesa pretende evitar um novo massacre, após o ataque ucraniano que matou pelo menos 89 soldados russos (400, segundo as autoridades militares ucranianas), no coração do quartel militar provisório de Makiïvk, durante o Ano Novo. A Defesa russa culpou os soldados russos que usaram seus telefones celulares para desejar um feliz ano novo a seus entes queridos.

Os dispositivos eletrônicos teriam permitido à Ucrânia localizar geograficamente uma grande concentração de soldados e atacar com precisão.

Os celulares também foram comprometedores no caso do soldado Alexander Lechkov, recruta na Sibéria. Viralizaram na internet vídeos que mostravam que o combatente insultou e empurrou um coronel durante uma discussão sobre capacetes e coletes de proteção. Lechkov foi, portanto, condenado a cinco anos e meio de prisão.

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No campo de guerra, no entanto, os dispositivos são usados também para defesa da tropa - pilotar drones de reconhecimento de locais e pessoas e transmitir informações.

“Tablets e smartphones são essenciais para a guerra moderna”, disse o chefe do grupo mercenário Wagner, Evgeny Prigojine, em entrevista à mídia russa estatal. “Graças aos dados recolhidos, os combatentes conhecem a situação geral e podem transmitir informações vitais”, afirmou.

Punições mais rígidas  

Um decreto que determina penas mais severas a soldados infratores foi emitido em 30 de dezembro de 2022 e deve entrar em vigor nas próximas semanas. Desenvolvido pelo Ministério da Defesa, ele atualiza uma prática abandonada há vinte anos: a instalação de prisões militares nas bases  do exército russo. 
 
Chamadas de gaouptvakhty, essas sedes poderão acolher os militares acusados ​​de infração disciplinar grave, como a recusa de combate ou a saída de uma posição ou base militar. O texto especifica que esses locais de detenção devem ser instalados em contentores adequados à qualidade de vida dos combatentes.

Isso porque, em meados de 2022, vazamentos de vídeos trouxeram à tona que soldados eram detidos em passagens subterrâneas nas regiões de Donetsk e Luhansk. De acordo com os registros, dezenas de homens teriam sido forçados a se amontoar por semanas nesses locais.

Conforme revela o serviço de língua russa da BBC, que avaliou mais de 300 decisões judiciais no país, revela que existe um endurecimento progressivo das sentenças. Também evidencia que situações que isentavam soldados de punição, como lesões no corpo, não os impedem mais de estar na linha de frente e que alguns feridos são enviados de volta ao campo sem passar por avaliação médica.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]