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Mulher em frente a prédio residencial bombardeado em Kherson, no sul da Ucrânia
Mulher em frente a prédio residencial bombardeado em Kherson, no sul da Ucrânia| Foto: EFE/EPA/Maria Senovilla

Chegou o inverno no hemisfério norte, e os meses mais frios do ano podem representar uma etapa decisiva na guerra da Ucrânia, que completou dez meses na véspera de Natal.

Russos e ucranianos já haviam informado que um cessar-fogo durante as festas de fim de ano estava descartado, e a visita do presidente Volodymyr Zelensky aos Estados Unidos na semana passada deixou claro como Kyiv e Washington consideram crítico este período da guerra, devido à estratégia russa de bombardear a infraestrutura ucraniana (especialmente de energia) e gerar dificuldades para a população civil.

“A Rússia está usando o inverno como arma, congelando as pessoas, deixando-as famintas, isolando-as umas das outras. É o exemplo mais recente das atrocidades ultrajantes que as forças russas estão cometendo contra civis ucranianos inocentes: crianças e suas famílias”, declarou o presidente americano, Joe Biden.

Zelensky disse que a Ucrânia precisa “sobreviver a este inverno”. “Precisamos proteger nosso povo. E precisamos ser muito específicos nessa questão. Esta é uma questão humanitária fundamental para nós agora. É a questão da sobrevivência”, ressaltou.

Ao mesmo tempo em que mantém os ataques à infraestrutura ucraniana, o Kremlin também vem construindo grandes complexos de trincheiras, aparentemente com o objetivo de ganhar tempo no campo de batalha e recrutar, treinar e deslocar mais soldados.

Por seu lado, além de “sobreviver”, como pregou Zelensky, a Ucrânia tem o objetivo de manter sua contraofensiva, cuja maior vitória até o momento é a retomada de Kherson, única capital regional que Moscou havia tomado na guerra iniciada este ano.

Na semana passada, o ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, anunciou planos para formar 17 novas divisões e um novo corpo de exército, o que sinaliza o recrutamento de mais 350 mil tropas.

O think-tank americano Instituto de Estudos da Guerra (ISW, na sigla em inglês) concordou com uma avaliação da liderança militar ucraniana de que a Rússia poderia estar se preparando para uma grande ofensiva terrestre no inverno, possivelmente contra Kyiv, já que a estratégia de bombardear a infraestrutura energética ucraniana “não está conseguindo coagir a Ucrânia a negociar ou oferecer concessões preventivas”.

O analista militar Paulo Roberto da Silva Gomes Filho destacou à Gazeta do Povo que as condições de tráfego nas estradas no teatro de operações estão muito ruins atualmente em razão das chuvas.

“Com o inverno começando agora, e o frio se intensificando, a tendência é de as condições de tráfego melhorarem, pelo congelamento da lama. Por outro lado, temperaturas muito baixas dificultam as operações. Pesados os dois fatores, creio que é possível que as operações de movimento voltem em janeiro, de ambos os lados”, relatou o especialista.

“Há que se considerar, também, que esse tempo de relativa estabilidade na frente de combate está proporcionando tempo para os dois lados treinarem seus reservistas, que poderão ser empregados em maior quantidade já no início de 2023”, complementou Gomes Filho, para quem a estratégia russa de bombardear a infraestrutura ucraniana não deve ser suficiente “para forçar Kyiv a negociar, pois os ucranianos já demonstraram bastante resiliência em face das dificuldades impostas pela invasão russa ao seu território”.

Durante a visita de Zelensky, os Estados Unidos confirmaram o primeiro envio à Ucrânia do sistema de defesa aérea Patriot, capaz de derrubar mísseis de cruzeiro, mísseis balísticos de curto alcance e aeronaves em um teto significativamente mais alto do que os sistemas de defesa aérea fornecidos anteriormente.

Gomes Filho apontou, porém, que embora o sistema Patriot vá “agregar muito valor às defesas antiaéreas ucranianas”, “poucas unidades não serão capazes de proteger o território ucraniano como um todo”. “Não acredito que a Rússia altere sua estratégia em razão do fornecimento do sistema”, apontou o analista.

Outro ponto que pressiona a Ucrânia é a incerteza sobre o fornecimento de gás à Europa ocidental durante o inverno, o que pode levar governos e populações locais a reduzirem seu apoio ao país invadido.

“A intenção da Rússia, ao cortar o fornecimento de gás para a Europa no inverno, é causar transtornos econômicos que levem a opinião pública europeia a pressionar a Ucrânia a negociar a paz o mais rapidamente possível, ou seja, com a Rússia ainda de posse de grande parcela de território ucraniano”, explicou Gomes Filho.

“A dúvida é se a Rússia terá êxito nessa estratégia. Isso vai depender do quanto cada país europeu vai conseguir substituir as importações russas e contornar as dificuldades econômicas.”

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