Maduro precisa de medidas impopulares e postura branda para recuperar confiança externa .| Foto: Jorge Silva/Reuters

Quando se tornou presidente da Venezuela, em 19 de abril de 2013, Nicolás Maduro tentou dar continuidade ao jeito Hugo Chávez de governar. No entanto, dois anos depois, o presidente venezuelano tem à frente um cenário bem mais desafiador, com dívida e inflação maiores e preços mais baixos do petróleo, que representa 95% das exportações do país. Para sair dessa crise, Maduro precisaria mudar de estilo e adotar medidas impopulares, mas o líder inspira pouca ou nenhuma credibilidade no mercado e não mostra vontade política para isso.

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Com menor receita das exportações de petróleo, devido aos preços internacionais mais baixos, o governo tem menos recursos para pagar a dívida externa e importar itens básicos. Com isso, os produtos ficam escassos no país e os preços sobem. “Maduro não tem capacidade para gerir essa catástrofe”, afirma o ex-ministro de Planejamento da Venezuela Ricardo Hausmann, hoje professor de economia da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

Nas contas do professor de Harvard, o país deve arrecadar neste ano US$ 31 bilhões com exportações da commodity produzida pela estatal PdSVA, levando em consideração um preço médio de US$ 50 por barril. O dinheiro é suficiente para pagar as obrigações da dívida em 2015, em torno de US$ 12 bilhões, mas também precisa ser usado para cobrir os gastos com importações, que, no ano passado, somaram US$ 42 bilhões.

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Acredito que o atual regime parece pouco disposto a tomar todas as medidas necessárias para sair desta situação.

Neil Shearing, economista-chefe para mercados emergentes da consultoria Capital Economics.

O resultado disso é recessão e inflação mais acentuadas. O governo venezuelano ainda não consolidou os dados do Produto Interno Bruto (PIB) de 2014, mas já se sabe que, até o terceiro trimestre, houve queda anual de 2,3%. Para 2015, o Fundo Monetário Internacional (FMI) espera uma contração quase três vezes maior: 7%. Os preços ao consumidor, por sua vez, devem acelerar para alta de 96,8% no ano, de 63,6% nos 12 meses encerrados em novembro do ano passado, o número mais atualizado. Se a previsão do FMI se confirmar, o país segue como campeão mundial de inflação.

A queda dos preços do petróleo não é, porém, a culpada pela crise. Apenas torna a situação pior, diz a Capital Economics. Em relatório enviado a clientes, o economista-chefe para mercados emergentes da consultoria, Neil Shearing, faz duras críticas aos gastos públicos em excesso, que contam com generosos subsídios ao setor de energia. Para financiar o aumento dessas despesas, o governo imprime mais dinheiro, reforçando o desequilíbrio da economia.

Aqueles que tentam analisar a balança de pagamentos do país esbarram na demora do governo em publicar números atualizados, além da falta de confiança naqueles que são publicados. Nem mesmo uma desvalorização da moeda para elevar exportações e incentivar consumo interno ajudaria a Venezuela, já que o principal item de exportação, o petróleo, é precificado em dólar e o país tem forte dependência de produtos estrangeiros para suprir a demanda interna.

Credibilidade

Para se financiar, a Venezuela precisa de apoio externo. O problema é que Maduro não tem credibilidade no mercado nem boas relações com o FMI e com o Banco Mundial.

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Neil Shearing propõe, então, uma elevação significativa da taxa de juros, hoje negativa em 30%, a mais baixa do mundo. Seria uma forma de atrair recursos externos. Hausmann, de Harvard, sugere menos restrições aos negócios, o que elevaria os investimentos. “Mas, infelizmente, acredito que o atual regime parece pouco disposto a tomar todas as medidas necessárias para sair desta situação”, lamenta o economista-chefe.

Na Venezuela, o presidente tem mandato de seis anos, com a possibilidade de reeleição ilimitada. Portanto, Maduro tem mais quatro anos para convencer a população de que está apto a permanecer no cargo. Antes disso, no fim deste ano, terá sua popularidade posta à prova nas eleições parlamentares. No começo do ano, era de 22%, segundo o instituto venezuelano Datanalisis.